• Mundo

    Sunday, 05-May-2024 12:24:03 -03

    Catalunha vota em eleição regional marcada pela indefinição

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

    21/12/2017 07h44 - Atualizado às 15h33

    Com as urnas abertas desde às 9h (às 6h em Brasília), catalães votam nesta quinta-feira (21) para formar o próximo Parlamento da região, situada no nordeste da Espanha. Apesar das longas filas das primeiras horas, o movimento caiu à tarde. Não houve incidentes.

    O pleito foi convocado pelo primeiro-ministro conservador espanhol, Mariano Rajoy, do Partido Popular, como uma maneira de estabilizar o território depois do plebiscito separatista de 1° de outubro, que teve a participação de 43% do eleitorado e 90% dos votos no "sim".

    O resultado no fim do dia, no entanto, não deve resolver de imediato a crise política. As pesquisas de opinião coincidem em que nenhuma força política terá a maioria necessária para governar sozinha. A formação do governo dependerá, pois, de complicadas alianças.

    Agravando o cenário, o próximo Parlamento catalão provavelmente irá contar com cinco deputados fora do país, incluindo o ex-presidente Carles Puigdemont, e com três presos. Não está claro, por exemplo, como eles assumirão os assentos ou se poderão de fato legislar.

    Preocupados com a persistência dessa instabilidade, os bancos aconselham que investidores esperem a formação de um governo de fato. Desde o início de outubro, segundo o jornal local "El País", mais de 3.000 empresas abandonaram o território catalão.

    São 5,5 milhões de eleitores na região, dos quais se espera uma participação recorde.

    Às 18h locais (15h em Brasília), a participação era de 69,5%. Nesse mesmo horário em 2015, o nível era de 63,1%.

    Dada a importância política do resultado, essas são as eleições regionais espanholas mais acompanhadas da história. Mais de 65 mil pessoas estão envolvidas no processo, incluindo os 20 mil voluntários de diversos partidos fiscalizando o voto e a contagem.

    "Há muita coisa em jogo", disse à Folha Francisco Segovia, que veio de Cádis, no sul da Espanha, como voluntário do partido de centro Cidadãos. "Estas eleições não são só sobre a Catalunha, mas também sobre a Espanha e a Europa como a conhecemos."

    Apesar de toda a expectativa, não havia nenhuma movimentação excepcional nas ruas de Barcelona, em contraste com os protestos e embates que marcaram os episódios mais recentes da crise separatista catalã. Eram poucos os cartazes de campanha.

    Nas filas dos locais de voto visitados pela reportagem, tampouco se repetiam as imagens de manifestantes enrolados em bandeiras ou entoando slogans políticos.

    As únicas demonstrações óbvias eram as fitinhas amarelas na lapela de separatistas, pedindo a liberdade dos políticos detidos desde o referendo de 1° de outubro. "É impensável que tenham feito campanha sem ter sua liberdade", diz Magnolia Alvarez.

    BLOCOS

    As fragmentadas forças políticas catalãs estão divididas em dois blocos. Os que querem a independência são chamados "separatistas", enquanto os alinhados a Madri se dizem "constitucionalistas" —a Constituição espanhola não prevê a secessão de seus territórios.

    Nenhum bloco deve ter sozinho os 68 assentos que são necessários para governar em um Parlamento de 135 deputados. O que definirá então a próxima legislatura serão as alianças.

    Os líderes das pesquisas são a separatista Esquerda Republicana e os constitucionalista Cidadãos, de centro-direita. O líder da Esquerda Republicana, Oriol Junqueras, está detido.

    Uma sondagem realizada pelo instituto Sigma Dos e publicada na última sexta-feira (15) prevê 34 assentos para a Esquerda Republicana e até 33 para os Cidadãos. A aliança separatista Juntos pela Catalunha, do ex-presidente Puigdemont, teria até 26 cadeiras.

    Um dos partidos que poderão determinar o próximo governo é o Catalunha em Comum, da prefeita de Barcelona. O Sigma Dos lhe prevê até dez assentos. Apesar de ter mais afinidade com os partidos separatistas, essa força política é contrária à secessão unilateral catalã.

    CONTEXTO
    A crise separatista marca as relações entre o governo central e a administração regional desde 2006, quando catalães aprovaram seu estatuto de autonomia. O texto, conhecido como "estatut" em catalão, definia a região como "nação", o que levou a atritos com Madri.

    A Catalunha já possui uma autonomia relativa, com seu próprio Parlamento e uma polícia regional, os Mossos d'Esquadra.

    A questão se tornou urgente quando catalães votaram no plebiscito de 1° de outubro, considerado ilegal pela Justiça espanhola. Houve embates entre eleitores e as forças de segurança espanholas. O governo regional fala em quase 900 feridos, o que Madri contesta.

    O Parlamento catalão declarou sua independência de maneira unilateral em 27 de outubro. Em resposta, o governo de Mariano Rajoy destituiu o governo local, convocou as eleições desta quinta-feira e acusou a liderança catalã de graves crimes como sublevação e rebelião.

    Direto de Bruxelas, onde está foragido, o ex-presidente catalão convocou eleitores a participar do pleito, dizendo que "hoje demonstraremos de novo a força de um povo irredutível". "Que o espírito do 1° de outubro nos guie sempre", afirmou o líder separatista.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024