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    Violência urbana sai do controle no México

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    24/12/2017 02h00

    Edgard Garrido/Reuters
    An activist holds candles during a protest against a new security bill, Law of Internal Security, outside Senate building, in Mexico City, Mexico, December 13, 2017. REUTERS/Edgard Garrido ORG XMIT: GGGEGC22
    Ativista em protesto na Cidade do México contra lei que permite uso do Exército como força policial

    Entrou em vigor no México na última quinta-feira (21) a Lei de Segurança Interior, que permite o uso do Exército como força policial para atuar em todo o território nacional e principalmente nas grandes cidades.

    Aprovada pelo Parlamento, recebeu críticas de entidades locais de direitos humanos e de órgãos internacionais, como ONU e OEA (Organização dos Estados Americanos).

    As principais ressalvas são as de que o expediente abre espaço para a restrição de liberdades individuais e isenta o Exército de prestar contas às autoridades regionais, já que a força poderá ser acionada diretamente pelo Executivo federal.

    O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, em vias de entrar em seu último ano de mandato, justifica a medida como necessária para baixar a taxa de homicídios, que aumentou 18% neste 2017, com relação ao ano passado.

    Depois de assumir um país em que seu antecessor, Felipe Calderón (2006-2012), havia começado uma guerra contra o narcotráfico que já deixara 60 mil mortos, Peña Nieto logrou diminuir um pouco esse número em seus primeiros anos —por um lado, usando a estratégia de prender os líderes dos grandes cartéis; por outro, usando a polêmica tática de aliar-se, em algumas regiões, às "polícias comunitárias", ou seja, milícias cidadãs.

    Henry Romero/Reuters
    ATTENTION EDITORS - VISUAL COVERAGE OF SCENES OF INJURY OR DEATH A police officer and forensic technicians stand at a crime scene where a man lies dead after being killed by unknown assailants outside a building in Chilpancingo, Guerrero state, Mexico November 15, 2017. REUTERS/Henry Romero ORG XMIT: GGGHNR01
    Ambulante vê o trabalho de policiais em local de crime em Chilpancingo (sul mexicano)

    Em 2017, porém, a violência voltou a sair do controle, em parte porque os cartéis se reorganizaram de forma mais descentralizada, e aumentou a promiscuidade entre autoridades regionais e narcotraficantes, que passaram a financiar campanhas eleitorais.

    Apenas em outubro, morreram de forma violenta 2.371 pessoas, e este ano deve chegar ao fim como o mais sangrento da história contemporânea do México, segundo estimativas de ONGs.

    Para Peña Nieto, a medida será eficaz em reduzir esses números e pode ajudar a alavancar a candidatura do nome de seu partido, o PRI (Partido Revolucionário Institucional), à Presidência, nas eleições de julho de 2018.

    O ex-ministro da Economia José Antonio Meade, está a distantes 15 pontos percentuais do esquerdista Andrés Manuel López Obrador.

    "A questão é que, sempre que um governante não sabe o que fazer para resolver a questão da segurança, coloca o Exército na rua. O cidadão comum aplaude, pois é um símbolo que faz com que ele pense que está mais seguro. Mas, na verdade, é uma medida que em geral só aumenta a violência", diz à Folha Alejandra Inzunza, jornalista especializada em levantamentos sobre violência na América Latina.

    COLÔMBIA

    País com características distintas das do México, em termos de população, história e conjuntura, a Colômbia termina o ano com uma redução na taxa de homicídios em cidades-chave —especialmente em Bogotá, onde o índice foi reduzido em 5%, mas também em Medellín e Cali.

    O ano de 2018 também será de eleições no país, as primeiras depois do acordo de paz com a ex-guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

    A Colômbia já usou várias estratégias para diminuir a criminalidade nos grandes centros. Na gestão Álvaro Uribe (2002-2010), usou-se linha dura, com apoio aos paramilitares no interior e uma polícia militarizada nas grandes cidades, como se está fazendo no México agora.

    Jesus Bustamante/Reuters
    ATTENTION EDITORS - VISUAL COVERAGE OF SCENES OF INJURY OR DEATHForensic technicians work at a crime scene where journalist Javier Valdez was gunned down by unknown assailants in Culiacan, in Sinaloa state, Mexico, May 15, 2017. REUTERS/Jesus Bustamante TEMPLATE OUT ORG XMIT: TBR03
    Peritos no local onde jornalista foi assassinado no Estado de Sinaloa, no oeste do México

    Depois, vieram administrações que investiram em urbanismo e na criação de espaços de convivência, como a de Sergio Fajardo, em Medellín, e as de Antanas Mockus e Enrique Peñalosa, em Bogotá. Nas duas cidades, essas medidas tiveram êxito.

    Medellín segue sendo um modelo internacional, passando de uma das cidades mais violentas do mundo, na época do cartel de Medellín (anos 80/90), a um lugar que exporta ideias urbanísticas para melhorar a segurança.

    Um exemplo é seu "metrocable", um teleférico que une o centro à periferia, instalado, entre outros lugares, também no Rio de Janeiro.

    No caso de Bogotá, porém, as estratégias que antes deram resultado começam a mostrar-se insuficientes, por conta do crescimento acelerado da população devido ao deslocamento de famílias que fugiram nas últimas décadas dos confrontos entre Exército e guerrilhas no interior.

    Após a introdução das medidas urbanísticas e da assinatura do acordo de paz, um passo crucial para que a população se sinta mais segura —a sensação de insegurança aumentou de 41% a 50% de 2016 para cá— é a boa implementação dos programas de pós-conflito.

    Eles preveem a reinserção dos ex-guerrilheiros na sociedade e que aqueles forçados a deixar suas casas por causa da guerra retornem, deixando moradias precárias nos subúrbios das grandes cidades.

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