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    Política migratória do governo Trump desafia a burocracia

    MICHAEL D. SHEAR
    JULIE HIRSCHFELD DAVIS
    DO "NEW YORK TIMES"

    27/12/2017 02h00

    Lalo de Almeida / Folhapress
    Tijuana, Mexico. 13/04/2017. ESPECIAL MUROS. Mexicanos observam muro que marca a fronteira entre Tijuana, Mexico e San Diego, EUA ( ao fundo ). ( Foto: Lalo de Almeida / Folhapress ) Mundo ***Exclusivo Folha***
    Muro em praia que marca a fronteira entre Tijuana, México, e San Diego, EUA

    Atrasado para a reunião que ele próprio convocara e agitando uma folha coberta de números, o presidente dos EUA, Donald Trump, entrou no Salão Oval um dia em junho, enfurecido.

    Cinco meses antes, ele despachara agentes federais a aeroportos do país para impedir passageiros de vários países muçulmanos de entrarem nos EUA, numa demonstração dramática de como pretendia cumprir sua promessa de campanha de fortalecer as fronteiras.

    Mas tantos estrangeiros haviam entrado desde janeiro, disse Trump à sua equipe, furioso, que a promessa estava sendo ridicularizada.

    Segundo funcionários que participaram da reunião ou foram informados do que foi discutido, Trump começou a ler em voz alta o documento, que Stephen Miller, assessor de política nacional, lhe entregara logo antes, que listava o número de imigrantes que haviam recebido visto para ingressar nos EUA em 2017.

    Mais de 2.500 eram do Afeganistão, um paraíso para terroristas, queixou-se o presidente. Quinze mil pessoas haviam vindo do Haiti. "Todas têm Aids", Trump resmungou.

    Quarenta mil pessoas tinham chegado da Nigéria, acrescentou Trump. Depois de conhecerem os EUA, elas "nunca mais iam querer voltar para suas choças" na África.

    John Kelly, então secretário da Segurança Interna, e Rex Tillerson, secretário de Estado, teriam tentado intervir, explicando que muitas dessas pessoas estavam apenas visitando o país. Mas, quando o presidente continuou furioso, Kelly e Miller se voltaram contra Tillerson, culpando-o pelo fluxo de estrangeiros.

    No sábado (23), a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, negou que Trump tenha feito comentários depreciativos sobre imigrantes na reunião. "O general Kelly, o general McMaster, o secretário Tillerson, a secretária Neilsen e todos os outros assessores que estavam presentes rejeitam essas acusações absurdas", ela disse, aludindo ao atual chefe de gabinete da Casa Branca, o assessor de Segurança Nacional e os secretários de Estado e de Segurança Interna.

    A reunião de junho reflete a abordagem visceral de Trump a uma questão que definiu sua campanha e moldou indelevelmente o primeiro ano de sua Presidência.

    Como muitas de suas iniciativas, seu esforço para mudar a política imigratória dos Estados Unidos vem sendo executado em um processo desordeiro e disfuncional.

    Mas, enquanto Trump vem ficando frustrado repetidas vezes pelos limites de seu poder, seus esforços para transformar décadas de política imigratória americana estão ganhando ímpeto crescente.

    Trump chegou ao poder com uma longa lista de promessas de campanha, que incluíam não apenas a construção de um muro na fronteira com o México mas também a criação de uma "força de deportação", a proibição de entrada de muçulmanos no país e a deportação imediata de milhões de imigrantes com antecedentes criminais.

    Lembrando-se de sua promessa de campanha de impor rapidamente um sistema de "verificação extrema" de estrangeiros, Trump decidiu que sua primeira ação simbólica seria uma ordem executiva para proibir o ingresso no país de pessoas vindas de países que a Casa Branca considerava terem sido comprometidos pelo terrorismo.

    O anúncio do decreto numa noite de sexta-feira, sete dias após a posse de Trump, gerou cenas de caos nos maiores aeroportos, quando centenas de pessoas foram barradas, e desencadeou confusão generalizada e protestos.

    Nos primeiros cem dias de Trump no poder, agentes detiveram 41.318 imigrantes que estavam no país ilegalmente, um aumento de quase 40%.

    O Departamento de Justiça começou a contratar mais juízes de imigração para acelerar as deportações. O fluxo de refugiados ingressando nos Estados Unidos diminuiu.

    NOVO DECRETO

    No início de março, juízes em várias partes do país sustaram o decreto de migração. O secretário da Justiça, Jeff Sessions, e advogados da Casa Branca e do Departamento de Justiça decidiram que defender a ordem na Suprema Corte resultaria em fracasso. Em vez disso, a proposta deles era que fosse redigido um decreto mais restrito que pudesse passar pelo crivo legal. Mas o presidente ficou furioso com o que viu como sendo um recuo diante de adversários politicamente corretos.

    Em um jantar com Sessions, Trump cedeu. Quando retornou a Washington, assinou a nova ordem. Foi um indicativo de que ele tinha começado a compreender a necessidade de respeitar os processos de praxe.

    Ao mesmo tempo, o governo começava a voltar sua atenção a outra maneira de endurecer a fronteira: limitar o número de refugiados.

    Em setembro foi lançada uma terceira versão do decreto migratório do presidente, com pouco alarde. Trump passou por cima de objeções feitas por diplomatas e impôs um limite de 45 mil aos refugiados aceitos em 2018, o número mais baixo desde 1986.

    Em novembro, o presidente encerrou um programa humanitário que tinha dado residência a 59 mil haitianos desde o terremoto de 2010.

    O presidente ainda vê um sistema imigratório marcado pela complacência. Ele se queixou a jornalistas: "Somos tão politicamente corretos que temos medo de fazer qualquer coisa".

    Tradução de CLARA ALLAIN

    Edição impressa
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