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    Jovens criam festas independentes que chegam a lucrar R$ 8.000 por edição

    FLÁVIA FARIA
    DE SÃO PAULO

    20/03/2016 02h00

    Um grupo de amigos cansado de ir às festas de sempre resolve criar seu próprio evento. A novidade atrai outros entediados e, o que era para ser um passatempo, vira um negócio profissional.

    É assim que nasce boa parte das novas baladas de São Paulo. Diferentemente das casas noturnas tradicionais, elas não têm locação fixa nem frequência rígida, mas atraem um público médio que varia de 500 a 800 pessoas por edição.

    "A gente queria fazer uma coisa nova em São Paulo. Achamos super divertido e aí rolou segunda, terceira edição", afirma Denny Azevedo, 32, criador da festa Venga, Venga em parceria com o marido, Ricardo Dom, 29.

    A estreia aconteceu em 2013 e, desde então, chegou a ter duas "turnês" pela Europa, em 2014 e 2015. As locações vão desde um cabaret na região central ao terraço do Edifício Martinelli.

    Rogério Cassimiro
    SAO PAULO - SP - BRASIL - 13/03/2016 â€" ESPECIAL CARREIRAS -- Publico da festa Glow Pop. (Foto: Rogerio Cassimiro)
    Festa Glow Pop, na zone oeste de São Paulo

    O preço do ingresso, principal fonte de renda, varia de R$ 25 a R$ 40. "Não é barata de produzir, mas precisa ser acessível para o público. É o nosso grande milagre", diz.

    Para fazer uma festa com 800 pessoas em um local que não tem estrutura de bar, banheiros e segurança, são necessários de R$ 20 mil a R$ 30 mil. Com ingressos a preços entre R$ 30 e R$ 50, o lucro gira entre R$ 6.000 e R$ 8.000.

    Para conseguir o mesmo valor em uma boate, é preciso pôr muito mais gente. Em compensação, o custo é menor: de R$ 5.000 a R$ 10 mil.

    Por isso, alguns produtores de festa preferem negociar contratos com casas noturnas. Nesse caso, a boate fica com 30% a 50% do valor arrecadado com ingressos e não há divisão da receita do bar, que fica com a casa.

    Uma festa bem-sucedida com cerca de 500 pessoas rende por volta de R$ 40 mil, diz Facundo Guerra, 42, dono das casas Cine Joia, Yatch e Lions Club, em São Paulo.

    "Pode ser menos rentável para o produtor, mas a parceria também divide o risco do prejuízo", afirma.

    Uma das estratégia para atrair tanta gente é a venda antecipada de ingressos a custos menores do que os praticados na porta do evento. Isso funciona como termômetro da festa: se há poucos ingressos vendidos antecipadamente, é sinal de que é preciso investir mais em divulgação.

    A prática também ajuda a garantir verba para os custos que precisam ser pagos com antecedência e a evitar filas.

    COM LENÇO E DOCUMENTO

    À medida que a festa cresce e se torna conhecida, ela exige profissionalização.

    festas

    Alguns produtores formalizam o negócio abrindo um CNPJ ou contratando uma produtora, e vão aprendendo na prática o significado de fundo de caixa e capital de giro.

    O coletivo Metanol, que organiza festa de mesmo nome, reserva 20% da receita dos eventos para fundo de caixa. Esse dinheiro é usado, entre outras coisas, para produzir festas gratuitas de rua.

    "Entendemos que a festa de rua faz parte do DNA do nosso trabalho", diz Akin Deckard, 38. "Nos comunicamos com pessoas que não nos conheciam. É como um portfólio."

    PERSONALIDADE

    Em um sábado à noite, jovens de visual descolado fazem fila para entrar em um prédio abandonado. Lá dentro, música eletrônica, instalações artísticas e clima underground compõe o cenário da festa Mamba Negra.

    A locação exótica é intencional: segundo a produtora Laura Diaz, 26, a ideia da festa surgiu para dar a público e DJs um espaço livre de regras, diferentemente das casas noturnas tradicionais.

    "Os espaços da noite paulistana têm uma série de restrições que não são interessantes para o ambiente de liberdade e experimentação que queremos", afirma.

    A composição de espaço, decoração, música e comunicação com o público formam a marca e a identidade da festa. Segundo o produtor Beto "BK" (como é conhecido no ramo), 41, que faz a edição paulistana da festa carioca Chá da Alice, a personalidade do evento é o grande diferencial.

    "Esse é o grande ponto, aquilo que liga as pessoas àquela marca", afirma.

    A festa Glow Pop, por exemplo, aposta no combo luz negra e distribuição de tinta neon para o público se pintar livremente. Nas caixas de som, hits de Lady Gaga, Beyoncé e Taylor Swift.

    O produtor Alex Correa, 23, investe pesado na propaganda do evento. "Fazemos a divulgação on-line, com 95% do trabalho via Facebook. É uma relação fiel e próxima com os frequentadores, com conteúdo divertido, muitos 'memes' e foco no público LGBT", afirma o empresário.

    A aposta na produção de material para redes sociais foi uma das estratégias de Correa para evitar que a crise econômica prejudicasse suas festas -ele também é dono da Glow in the Dark, que segue o mesmo padrão de cenário, mas toca indie rock.

    "Em dezembro, tivemos uma edição recorde com 1.300 pessoas na Glow in The Dark", afirma.

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