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    Editorial: Capivara ameaçada

    18/01/2014 03h00

    A crise financeira que ameaça fechar o Parque Nacional da Serra da Capivara à visitação não é novidade nesse parque nem em qualquer outro do Brasil. Falta de investimento é a regra no sistema nacional de unidades de conservação.

    A própria existência desse local com boa infraestrutura em São Raimundo Nonato (PI), onde fica a maior concentração de sítios arqueológicos do país, é quase um milagre. Criado em 1979, sustenta-se graças à arqueóloga Niède Guidon, que move mundos e fundos para mantê-lo aberto –e não raro promete fechá-lo, como agora.

    O parque piauiense tem 1.290 km² (equivale a 85% da área da cidade de São Paulo) e 28 guaritas de segurança, das quais só 12 têm guardas. Todos são pagos pela Fundação Museu do Homem Americano, que administra a unidade com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

    Há no total uma centena de funcionários, um para cada 13 km². É uma situação privilegiada. A média nacional é de um para cada 186 km². Em densidade, a equipe da Serra da Capivara se equipara à de um país-modelo em administração de parques, a África do Sul, com um servidor para 12 km²; os EUA têm um para 21 km².

    A visitação da unidade em São Raimundo Nonato, porém, é de apenas 20 mil turistas por ano, o que pode ser explicado por sua localização remota e pela falta de um grande aeroporto próximo.

    O Parque Nacional da Tijuca, na área urbana do Rio de Janeiro, recebe 2 milhões de pessoas por ano. O de Iguaçu (PR), 1 milhão. O terceiro colocado no Brasil, Parque Nacional de Brasília, cai para 220 mil.

    Para comparação: o parque mais visitado dos EUA, Great Smoky Mountains (Tennessee e Carolina do Norte), é frequentado por mais de 9 milhões de pessoas.

    Enquanto no Brasil investem-se meros R$ 5 por hectare de área protegida, nos EUA o valor equivale a 34 vezes essa quantia. Dos 67 parques federais brasileiros, só 18 têm estrutura para visitação.

    É preciso mudar essa realidade. Não será barato, pois já se calculou que o investimento anual para explorar todo o potencial das 698 unidades de conservação do Brasil seria de R$ 1,2 bilhão.

    O mesmo estudo, "Contribuição das Unidades de Conservação para a Economia Nacional", projetou, no entanto, que a receita potencial seria da ordem de R$ 2,2 bilhões. Como tantas vezes no setor de turismo no Brasil, desperdiça-se mais uma grande oportunidade, que poderia ser aproveitada tanto pela administração estatal quanto por concessões privadas.

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