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    Hossam Zaki: O novo momento do Egito

    21/01/2014 03h00

    Nos dias 14 e 15 de janeiro, mais de 20 milhões de egípcios exerceram livremente seu direito ao voto e 98,1% deles aprovaram, nas urnas, uma nova Constituição para o país. Com isso, estabeleceram as bases legais para um novo sistema político em nossa República.

    Esse passo marca o término da primeira fase do cronograma anunciado em 3 de julho de 2013, restando ainda duas etapas: as eleições presidenciais e as eleições parlamentares. Ambos os pleitos deverão acontecer nos próximos seis meses.

    A nova Constituição egípcia foi elaborada por um conjunto de 50 personalidades públicas, que representam diversos grupos e tendências da sociedade egípcia.

    O documento é progressista e inclusivo. Respeita as liberdades civis e os direitos humanos, enfatiza a justiça social, considera a economia de mercado, aprimora os conceitos do Estado de Direito, empodera um sistema elaborado de separação de Poderes e exclui partidos políticos de base religiosa –tudo o que anseia a nação egípcia.

    O quórum foi alto: cerca de 40% de eleitores cadastrados, em comparação com os 32% que compareceram a referendo parecido organizado pelo governo da Irmandade Muçulmana em dezembro de 2012.

    A adesão reflete o desejo pujante dos egípcios de pôr um fim formal ao reinado da Irmandade Muçulmana de maneira legal e política. O período de um ano em que a organização governou o país foi marcado por eventos tão amargos e decepcionantes que quase toda a população egípcia hoje a despreza, enquanto organização e ideologia.

    A revolução de 30 de junho foi a demonstração do "cartão vermelho" que a nação dava para o reinado da Irmandade e de seus símbolos.

    Infelizmente, sete meses após sua destituição do poder, a liderança da Irmandade Muçulmana se recusa a reconhecer os graves erros que cometeu e continua na missão de desafiar tanto o Estado quanto a população. A tática violenta empregada e autorizada por essa organização e suas afiliadas ganhou o título oficial, com respaldo da população, de grupo terrorista.

    Há, no Egito, amplo espaço para a inclusão de variadas correntes na política nacional. Muitos muçulmanos que não fazem parte da Irmandade tomaram as decisões corretas nesse sentido.

    Mas a estratégia da organização de infligir o caos, tanto por meio de vingança quanto com chantagens para que o governo aceite suas "condições" ridículas, motivou reações enérgicas do governo egípcio, que é obrigado, em nome da segurança de seu país, a vetar as atividades da Irmandade Muçulmana.

    Surgiram críticas às iniciativas do governo, mas os egípcios as veem como necessárias para a legítima defesa do país, no sentido de evitar a queda do governo, como tem acontecido no Oriente Médio.

    Nosso povo é o primeiro a notar que há um longo caminho pela frente e que os desafios são enormes. Os egípcios desejam recuperar a estabilidade de seu país, reenergizar a economia, recuperar o turismo conhecido mundialmente, continuar a construir fortes instituições democráticas. Tudo isso juntamente com o combate à pobreza e a melhora da qualidade da saúde pública e da educação. Estamos determinados em continuar nessa direção.

    HOSSAM ZAKI, 48, é embaixador do Egito no Brasil

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