• Opinião

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    Editorial: Remediação nuclear

    21/01/2014 03h00

    Pelo menos uma década: eis o tempo necessário para o Estado brasileiro pôr em prática a solução para sua dependência de fornecimento externo de radiofármacos, compostos radiativos que estão na base da medicina nuclear.

    O desfecho virá com o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Se o licenciamento ambiental das novas instalações em Iperó (SP) for aprovado pelo Ibama nos próximos meses, como previsto, até 2018 ou 2019 o país se tornaria autossuficiente na área –mas são comuns os atrasos nesse processo.

    A decisão de construir o RMB veio após a crise de 2009 no abastecimento do molibdênio-99. Trata-se da matéria-prima para a produção do tecnécio-99, principal radiofármaco usado no Brasil, sobretudo em exames de cintilografia (diagnóstico por imagens).

    O produto era importado da empresa canadense MDS Nordion, que suspendeu de forma abrupta o fornecimento após avarias em seu reator. Foi preciso fazer importações emergenciais da Argentina, que no entanto supriam só um terço da demanda nacional.

    O RMB, orçado em mais de R$ 1 bilhão, está no final da corrida de obstáculos do licenciamento.

    O estudo e o relatório de impacto ambiental foram aceitos pelo Ibama em setembro. Em outubro houve três audiências públicas sobre os documentos. Falta a licença prévia de instalação, com a qual podem iniciar-se as obras civis do complexo, que ficará ao lado do Centro Experimental de Aramar, da Marinha, onde se desenvolve o projeto de reator para o submarino de propulsão nuclear brasileiro.

    Se não houver tropeços no licenciamento ambiental nem no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI, que poderá ser incluído na reforma eleitoral do gabinete da presidente Dilma Rousseff), as obras de terraplenagem se iniciarão ainda neste ano.

    A informação foi dada ao jornal "Valor Econômico" por Luiz Antonio Elias, secretário-executivo do MCTI. Ele anunciou também a contratação do projeto executivo do RMB, para conclusão em meados de 2015, ao qual se seguirá a licitação para construir o reator. Se a obra começar em 2016, parece duvidoso, porém, que seja concluída até 2018, expectativa do governo.

    O mercado internacional prevê justamente para 2016 nova crise no fornecimento de molibdênio –tema de reunião técnica marcada para hoje em Paris, da qual participam a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear. Ou seja, mesmo que tudo dê certo com o RMB, ele já viria tarde.

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