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    Yoel Barnea: Nunca mais

    27/01/2014 03h00

    A Segunda Guerra Mundial terminou em 1945. Junto com ela, chegou ao fim o evento mais trágico dos anais do povo judeu e, provavelmente, da humanidade.

    A "solução final" do regime nazista consistia na aniquilação total dos judeus. Essas tristes e terríveis memórias são parte integral da história do povo judeu, assim como do alemão, sendo inevitável que ambos se confrontem com elas.

    O Holocausto terminou, mas seus reflexos continuaram a se manifestar nas gerações seguintes, principalmente na subsequente, à qual pertenço. Meus avós maternos tiveram sete filhos e filhas na Checoslováquia, hoje Eslováquia. Quatro deles foram mortos em campos de concentração, junto com suas famílias e com meus dois avós.

    Meus avós paternos também tiveram sete filhos e filhas. Três deles foram exterminados em campos de concentração, junto com suas famílias e meus dois avós.

    Na época, meu pai já estava casado. Sua esposa e filha, de seis anos (minha meia-irmã), morreram nas câmaras de gás de Auschwitz. Minha mãe também era casada. Seu marido foi exterminado no campo de concentração de Mauthausen.

    Meus pais se encontraram depois desse terrível episódio. Tentaram refazer suas vidas, casaram-se e sou o único filho dessa união. Meu pai tinha já 49 anos quando eu nasci, e minha mãe, 36. A vida deles e a minha foram diretamente influenciadas pelos traumas profundos. Sou, com minha geração, vítima indireta da "solução final" do regime nacional socialista da Alemanha nazi.

    Junto com meus pais, eu também perdi minha família no Holocausto. Hitler não teve êxito em seu empreendimento. Mas o plano que ele tentou executar ainda repercute.

    O Estado de Israel nasceu três anos após o fim do Holocausto, sobre as cinzas dos 6 milhões de judeus, entre eles 1,5 milhões de crianças como minha meia-irmã Judith. Essas perdas foram resultado de uma doença nacional temporária de um povo que ficou cego e esqueceu os valores que fizeram de si até então uma nação desenvolvida.

    Assim como Israel, a Alemanha moderna também se reconstruiu: o povo utilizou todas as qualidades singulares que possui, dessa vez para o bem, e teve a capacidade de restabelecer um país democrático.

    Diz o filósofo: "Um povo que no presente esquece seu passado não tem futuro". Ao longo de quase 4 mil anos de vida nacional e 2 mil anos de diáspora, o povo judeu se sustenta por nunca ter esquecido seu passado . Isso me convence de que temos presente e futuro.

    Não podemos e não devemos, nós, judeus e nosso Estado judeu (o único), o Estado de Israel, esquecer o cataclismo do Holocausto. Infelizmente, apenas 70 anos depois, surgem novas vozes, incluindo dirigentes de povos e nações, que o negam, enquanto ainda vivem entre nós vítimas diretas dessa catástrofe.

    Por essa razão a ONU estabeleceu o dia 27 de janeiro como Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.

    Questiona-se qual teria sido o destino do judaísmo se o Estado de Israel existisse durante o Holocausto. As respostas estão com Deus. Em todo caso, o Estado de Israel é hoje uma garantia de que um fenômeno desumano nunca mais acontecerá com o povo judeu.

    E que assim seja para todos os povos no mundo.

    YOEL BARNEA, 63, formado em relações internacionais pela Universidade de Genebra, é cônsul-geral de Israel em São Paulo

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