• Opinião

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    Editorial: Diretas-Já, 30

    25/01/2014 03h00

    A campanha pelas eleições diretas para presidente, que nestes meses completa 30 anos, foi um divisor de águas na história contemporânea do país.

    Ali confluíam e culminavam todas as reivindicações represadas pela ditadura militar que se prolongava por duas décadas e buscava recuperar fôlego à custa de uma arrastada estratégia de descompressão –a "abertura".

    Mesmo no período mais violento do combate à guerrilha comunista, entre 1968 e 1974, manteve-se viva a resistência por parte de militantes dos direitos humanos.

    A ela somaram-se, em camadas sucessivas conforme o regime se desgastava, a atuação de entidades como a OAB e a CNBB, o protesto na universidade, a crítica na imprensa, as vitórias eleitorais do MDB e as passeatas estudantis de 77-78, logo seguidas pelas greves do então nascente movimento operário do ABC paulista.

    O somatório desses vetores foi uma irresistível pressão democrática, cristalizada no simbolismo do voto popular para presidente –o primeiro direito que a ditadura cassara e o único de que jamais abrira mão.

    A campanha das Diretas-Já (o regime admitia a tese, mas para a sucessão seguinte) foi a expressão visível, palpitante nas ruas, daquela confluência. Relatos da época ressaltam seu aspecto pacífico, suprapartidário e vibrante.

    Hoje se comemora o comício da praça da Sé, que não terá sido o maior, mas aquele em que o movimento tomou vulto e passou a reunir grandes multidões.

    Embora os números então difundidos tenham-se provado exagerados, como revelaram cálculos posteriores, foi uma das mais expressivas mobilizações políticas que houve no Brasil.
    Derrotada no curto prazo, ao cair a emenda Dante de Oliveira em abril de 1984, a campanha popular foi fator decisivo do desfecho no próprio colégio eleitoral estipulado pelo regime, com a eleição indireta do oposicionista Tancredo Neves em janeiro de 1985.

    Foi, dirão seus críticos, mais uma transição à moda brasileira, sem ruptura profunda, em que o antigo regime se transfunde parcialmente no novo, mediante as artes conciliatórias da deserção e do oportunismo.

    Embora responsável por adiar mudanças que ainda tardam, não é menos verdade que essa tradição tem contribuído para evitar o trauma das transições violentas e das guerras civis.

    E houve avanço real. Como nunca antes e apesar das conhecidas mazelas, vive-se numa sólida democracia, que assegura as liberdades básicas, o respeito às normas e a alternância no poder. Devemos isso, em alguma medida, àqueles manifestantes de 30 anos atrás.

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