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    Editorial: Tomate, o retorno

    20/03/2014 03h30

    A julgar pelo que diziam as autoridades do governo Dilma Rousseff (PT), a inflação terminaria 2014 num patamar inferior aos 5,91% registrados no ano passado. A despeito dos esforços empreendidos pelo Banco Central desde abril de 2013, parece improvável que tal resultado venha a ser atingido.

    Verdade que, se considerados os 12 meses encerrados em fevereiro, o ritmo da alta dos preços desacelerou em relação ao pico de junho. Tal fato em tese auspicioso foi destacado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, durante pronunciamento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

    A trajetória da inflação, porém, mudará em breve. Vem dos alimentos a principal pressão do momento. A seca do primeiro bimestre do ano comprometeu a safra agrícola, e os impactos começam a chegar à mesa do consumidor. Com aumento próximo a 50% nas últimas semanas, o tomate, por exemplo, voltou a figurar entre os vilões.

    Fora a novidade do choque nos alimentos, os demais fatores são bem conhecidos. Indicadores que excluem itens voláteis –e por isso captam melhor a tendência de médio prazo– continuam subindo acima de 6% ao ano. Os preços dos serviços, por sua vez, ainda crescem mais de 8%. Há, além disso, a desvalorização cambial, que encarece produtos importados.
    Como decorrência, a taxa acumulada em 12 meses logo superará 6% –e permanecerá nesse nível até o final do ano, segundo projeções do setor privado.

    Como disse o presidente do BC, a política monetária demora a afetar a economia. Surpreende, ainda assim, que, mesmo depois de uma alta (até aqui) de 3,5 pontos percentuais na taxa Selic, mantenham-se elevadas as expectativas a respeito da inflação.

    Tal descrença, algo atípico na história recente do regime de metas, está relacionada à leniência do BC e do governo nos últimos anos.

    O represamento de preços importantes, como energia e combustíveis, também contribui para minar a credibilidade da política econômica. A gestão perdulária do Orçamento tampouco ajuda. Enquanto o BC sobe o custo do dinheiro a fim de refrear a demanda interna, a Fazenda opera no sentido oposto, gastando cada vez mais.

    À luz desses fatos, seria de esperar que, ao visitar o Senado, o presidente do BC explicasse como pretende cumprir sua missão primária, que é controlar a inflação e fazê-la voltar à meta de 4,5%.

    Alexandre Tombini, entretanto, foi genérico em relação a esse ponto. Em contrapartida, entrou em detalhes ao comentar programas do governo para acelerar o crescimento e melhorar a produtividade. Um discurso mais político do que técnico –e lá se vão quatro anos de maus resultados.

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