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    Editorial: Sombras na Petrobras

    21/03/2014 03h30

    Justificativas técnicas sofisticadas sempre podem produzir-se, para consumo dos interessados. Expõe-se a olho nu, todavia, a temeridade da decisão tomada pelo Conselho de Administração da Petrobras em 2006, quando adquiriu metade de uma refinaria situada em Pasadena, nos Estados Unidos, por US$ 360 milhões.

    A mesma instalação industrial tinha sido negociada, um ano antes, por US$ 42,5 milhões. O que teria fundamentado a maior estatal brasileira a comprar metade da refinaria por um valor oito vezes maior?

    Não foi erro bastante para a Petrobras, contudo. Aparentemente, seus executivos –ou alguns deles– ignoravam que, no contrato de compra, estariam forçados a encampar a outra metade da refinaria caso houvesse desentendimento entre os sócios.

    Era o que estava estipulado numa cláusula a que se dá o nome de "put option". Compraram-se, então, os 50% restantes –só que, agora, ao preço de US$ 820,5 milhões.

    Tem-se, portanto, que a empresa brasileira desembolsou US$ 1,19 bilhão, ou R$ 2,76 bilhões, para ficar com uma refinaria que, em 2005, custava menos de 5% desse valor. Concluído o negócio no ano de 2012, não tardaram a aparecer suspeitas sobre a idoneidade, ou a competência, ou a sensatez dos envolvidos na decisão.

    As suspeitas se tornam ainda mais graves quando surge a notícia, ontem, da prisão pela Polícia Federal de um ex-diretor da área de Refino e Abastecimento da Petrobras, investigado por sua participação na compra da refinaria de Pasadena e acusado de tentar destruir provas e documentos que supostamente o incriminariam num caso de lavagem de dinheiro.

    Antes se limitasse a esse ex-diretor o âmbito das investigações. Era Dilma Rousseff, na qualidade de ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula, quem presidia o Conselho de Administração da Petrobras em 2006, quando se fez a estapafúrdia aquisição da refinaria texana.

    Embora as dúvidas sobre o caso já se estendessem por vários meses, só nesta semana Dilma divulgou uma nota ao jornal "O Estado de S. Paulo", alegando ter aprovado o negócio com base em informações incompletas e num parecer "técnica e juridicamente falho".

    Executivos da empresa ouvidos pela Folha afirmam, entretanto, que todos os dados a respeito de operações desse tipo sempre se encontram à disposição dos integrantes do conselho.

    No mínimo, sai arranhada a imagem de administradora rigorosa e detalhista que tantas vezes se projetou em torno da presidente da República. Se, como se espera, as apurações prosseguirem com a diligência devida, as consequências políticas e penais provavelmente haverão de magnificar-se.

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