• Opinião

    Saturday, 18-May-2024 13:24:02 -03

    Renan Calheiros: Petrobras sob investigação

    06/04/2014 03h00

    A sociedade brasileira acompanhou, nos últimos dias, os acalorados debates no Congresso Nacional em torno da criação e amplitude das investigações de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) envolvendo denúncias de supostas irregularidades na administração dos recursos públicos.

    A oposição argumentou ser necessária uma investigação sobre operações da Petrobras e listou fatos determinados distintos, como a compra da refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos; as suspeitas de suborno a funcionários da estatal; denúncias em relação à segurança de plataformas e indícios de superfaturamento na construção de refinarias.

    Em outro flanco, os partidos aliados do governo aditaram à apuração supostas irregularidades no metrô de São Paulo e do Distrito Federal, além do porto de Suape, da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e a corrupção no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

    Foram dois requerimentos para criar a mesma CPI, situação inédita no Parlamento brasileiro e, quiçá, no mundo. Ambos protocolados e lidos no mesmo dia.

    Em questões regimentais, governistas cobravam-me a impugnação da investigação sob o argumento da falta de nexo entre os fatos. De outro lado, a oposição exigia a limitação da apuração, questionando a competência do Congresso em investigar questões estaduais, como o metrô de São Paulo e do Distrito Federal e obras em Pernambuco.

    Ao presidente do Senado cabe decidir sobre questões regimentais. Não compete a ele barrar nenhuma investigação que atenda aos pressupostos da Constituição: o mínimo de assinaturas e fato ou fatos determinados. CPIs são direitos da minoria, mas esse mandamento não significa limitar a maioria. Nas democracias, como se sabe, a decisão é sempre da maioria.

    O STF (Supremo Tribunal Federal) tem pacificado o entendimento de que novos fatos determinados podem ser incorporados ao rol inicial, mesmo no curso das investigações. Ora, se fatos podem ser acrescidos durante a apuração, muito mais na criação da CPI. O poder investigatório do Congresso se estende –e isso tem jurisprudência no STF– a toda gama dos interesses nacionais a respeito dos quais ele pode legislar.

    A fim de não substituir o plenário e a Comissão de Constituição e Justiça, submeti a decisão àquele colegiado que, como o nome expressa, tem a incumbência de dirimir conflitos sobre juridicidade e constitucionalidade. A resposta virá na próxima terça-feira, 8, e o assunto poderá ser deliberado pelo plenário do Senado no mesmo dia.

    Como presidente, além dos precedentes postos, minha decisão foi tomada após uma reflexão sobre os argumentos expressos. Decidi o caso ouvindo os dois lados, amparando-me na Constituição Federal, no regimento interno e na jurisprudência do Supremo, reunida na publicação feita pelo Congresso e a corte: "O STF e as CPIs".

    A base de qualquer sociedade igualitária é a verdade, é a justiça. Para atingirmos ambos os valores em sua plenitude, devemos buscar a primeira para aplicar a segunda.

    No caso específico, as investigações estão transcorrendo normalmente em órgãos como o Ministério Público, a Polícia Federal, o Tribunal de Contas da União, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e em sindicâncias na própria Petrobras.

    Uma investigação política às vésperas de uma eleição não é o melhor para o país. Como as decisões são colegiadas, poderá haver custos para os dois lados.

    Como todos sabem a utilização política das CPIs, seja por quem for, tende a enfraquecer esse poderoso instrumento de fiscalização.

    Reitero o que disse internamente, durante a decisão. CPIs, quando abandonam o subproduto político e o ilusionismo investigatório, costumam oferecer relevantes contribuições institucionais.

    RENAN CALHEIROS, 58, senador (PMDB-AL), é presidente do Congresso Nacional. Foi ministro da Justiça (governo Fernando Henrique Cardoso)

    *

    PARTICIPAÇÃO

    Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

    Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024