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    Ricardo Trade: O copo meio cheio

    17/04/2014 03h00

    A experiência que tive na África do Sul, na operação do estádio de Pretória, e o trabalho à frente do Comitê Organizador Local há quatro anos me levam a afirmar que faremos uma grande Copa do Mundo no Brasil. Sou otimista, sim. Conheço os nossos desafios, assim como a nossa capacidade para enfrentá-los. E tenho noção da dimensão de oportunidades propiciadas pelo evento.

    Estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) que mereceu pouquíssima atenção da mídia mostrou que a Copa das Confederações gerou o equivalente a 303 mil empregos em todo o país e adicionou cerca de R$ 10 bilhões ao PIB –mais, portanto, que os R$ 8 bilhões investidos nos 12 estádios construídos para a Copa do Mundo.

    Infelizmente, tal estudo rendeu apenas uma nota curta no "Painel FC", da Folha. Em vez de noticiar os principais números, a coluna criticou o impacto do turismo internacional. Faltou apenas informar o leitor que, historicamente, a Copa das Confederações é um torneio voltado para o público local, atraindo em média 3% de torcedores estrangeiros.

    Já na Copa do Mundo, esse número é pelo menos dez vezes maior. A previsão do Ministério do Turismo é de que o evento injete aproximadamente R$ 30 bilhões na economia do Brasil, gerando ainda mais empregos e aumentando a arrecadação de impostos. Estes sim poderão ser investidos em saúde e educação, em benefício da população.

    Parece ter virado moda falar mal da Copa do Mundo. Parece, mas não virou. Não para a maioria dos brasileiros. Porque, como mostrou pesquisa do Datafolha publicada em 8 de abril pela Folha, 48% dizem ser a favor da realização da Copa no Brasil contra 41% que se dizem contra.

    Em seu editorial "A Copa como ela é" (9/4), a Folha mais uma vez escolheu um dado em detrimento de outro. Optou pelo copo meio vazio, prática utilizada anteriormente e que, por sinal, já mereceu críticas da ombudsman do jornal em artigo publicado em outubro de 2013 ("Arauto das más notícias").

    Eu prefiro o copo meio cheio. Na Inglaterra, por exemplo, uma pesquisa feita três meses antes da Olimpíada de Londres mostrava que 53% da população não tinha interesse no evento e 64% dos entrevistados diziam que os jogos trariam mais prejuízos do que benefícios.

    Como é normal haver ceticismo antes de grandes eventos, buscamos colocar números em perspectiva e mostrar dados concretos: 11 milhões de pedidos de ingressos, mais de 150 mil inscritos no programa de voluntários e 18 mil jornalistas credenciados –recordes em relação às Copas anteriores.

    Problemas na preparação se repetem em vários países, com nuances locais. O próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter, lembrou o caso do Mundial da Itália, em 1990, em que os últimos assentos foram instalados na véspera do primeiro jogo.

    Somos bons de entrega e temos o sucesso da Copa das Confederações para provar. Vamos cobrar de todos os envolvidos que tudo fique pronto a tempo, até porque temos uma grande responsabilidade nas mãos.

    Mas beira a falta de informação fechar os olhos ao outro lado da moeda, que leva em conta o impacto econômico, as obras aceleradas ou antecipadas, os modernos estádios no país do futebol e a capacitação de milhares de brasileiros.

    E a imprensa tem um papel fundamental nesse sentido: ser crítica, mas também oferecer à opinião pública a visão global dos impactos positivos que o evento traz.

    RICARDO TRADE, 56, é diretor-geral do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo da Fifa 2014

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