• Opinião

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    Editorial: Avanço estatístico

    23/04/2014 03h00

    Não deixa de ser incômoda a proximidade entre o episódio da semana passada em que servidores do IBGE ameaçaram entregar os cargos em reação à suspensão da Pnad Contínua, dando margem a suspeitas de manipulação por parte do governo, e outra mudança metodológica em preparo pelo respeitado instituto estatístico.

    No início de maio o IBGE reformulará a coleta de dados de produção da indústria para aumentar a quantidade de produtos considerados e empresas entrevistadas. Longe de sugerir interferência ou partidarização do órgão, desta vez a mudança é bem-vinda e resultará em mapeamento melhor do setor, que representa quase 15% do PIB.

    A nota técnica que detalha as mudanças é de janeiro deste ano. Não há surpresa, portanto.

    O atual levantamento da indústria leva em conta a situação entre 1998 e 2000, obviamente desatualizada. Será difícil achar alguém que ainda compre videocassetes, e ainda mais improvável encontrar uma empresa que os produza.

    Não obstante, a estrutura de coleta ainda relaciona o item. Tablets e smartphones, por outro lado, passarão a ser contabilizados.

    Mesmo no caso de produtos consagrados, como automóveis, a pesquisa atual exclui fábricas abertas em período mais recente. Estima-se que a produção de algumas dezenas de milhares de veículos possa não ter sido considerada nos últimos anos, por estar localizada em novas plantas de manufatura.

    A nova pesquisa aumentará o número de locais de produção de 3.700 para 7.800. Os produtos, por sua vez, passarão de 830 para 944.

    Na prática, o que a mudança pode significar? O efeito mais provável parece ser o de elevar as estimativas de produção e, consequentemente, do PIB. No ano passado a indústria cresceu apenas 1,1%, resultado que pode até dobrar na nova estimativa. Haveria, ainda, impacto estatístico em setores relacionados à indústria, como construção civil e alguns serviços.

    A alta do PIB de 2013, como resultado, pode ser revisada de 2,3% para algo entre 2,5% e 3%.

    Por certo uma mudança dessa magnitude seria notícia bem recebida pelo governo. É preciso, no entanto, ter em mente que o quadro um pouco mais positivo não tem o poder de alterar a impressão de desalento no setor industrial, que deriva da produção estagnada desde 2008.

    Os problemas de competitividade, os custos elevados e a dinâmica de fundo da economia que favoreceram a desindustrialização nos últimos anos, afinal, não mudarão.

    A revolta dos funcionários do IBGE chamou a atenção, ainda, para a falta de recursos. Os dados econômicos precisam ter qualidade e abrangência, pois balizam decisões de políticas públicas e contratos privados. É crucial, assim, dotar o IBGE das condições operacionais necessárias para o desempenho de sua função.

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