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    Editorial: Depois de mim, a seca

    26/04/2014 03h00

    Com menos de 12% da capacidade total nestes últimos dias, o sistema de abastecimento da Cantareira sofre o mais baixo nível nas reservas de água desde que estas passaram a ser medidas, nos anos 1970.
    A população atendida pelo sistema, 8,8 milhões de habitantes da Grande São Paulo, conhece outro tipo de escassez: a de informações confiáveis das autoridades.

    Depois de negarem, por vezes com agressividade, a hipótese de racionamento, os responsáveis pela gestão da crise adotam atitude evasiva. São muitas as informações que a Sabesp sonega à população.

    Sabe-se que, com o projeto de bombear o "volume morto" do fundo das represas (ou seja, a água situada abaixo do nível de captação), é possível contar com ainda quatro meses de abastecimento normal.

    E depois? Considerando que a estação das secas mal começa, a medida paliativa tende a adiar para outubro o desencadeamento de crise ainda mais séria. Se o racionamento é medida indesejável, imagine-se uma situação em que nem mesmo a água para racionar exista.

    O calendário causa nervosismo no governo estadual, uma vez que coincide com as eleições –nas quais a atuação de quase duas décadas de administração tucana será posta em xeque. Não se trata só de falta de chuvas; está em questão a falta de investimentos no setor.

    Não soa ilegítima a especulação de que o governo Alckmin confia em adiar a crise durante os próximos meses, de modo a que a adoção de medidas concretas venha a ocorrer após o pleito de outubro.
    "Après moi, le déluge" –depois de mim, o dilúvio, teria dito Luís 15. Diante do sol adverso do verão, Geraldo Alckmin (PSDB) age como se fosse o caso de dizer "depois da eleição, a seca".

    Enquanto isso, reina a obscuridade. Segundo técnicos, a interrupção noturna do abastecimento em alguns pontos da cidade não é racionamento, ainda; deve-se à necessidade de remanejar a água oriunda de outros reservatórios.

    Que racionamento teria de ser adotado? No mínimo, admite-se, o método a ser aplicado exige dois dias sem água na torneira para um de abastecimento –tais as complexidades envolvidas na retomada.

    Ou será que nenhum racionamento adianta? O governador declarou que, dada a propensão natural dos habitantes a estocar a água, talvez o rodízio se mostre contraproducente.

    O que fazer? Alguma inibição do consumo pelo acréscimo de tarifas ajuda, mas até quando? Haveria um limite físico nos reservatórios a partir do qual um plano de racionamento –qual?– terá de ser posto em prática?
    O governo estadual, se é que tem respostas, não as fornece.

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