• Opinião

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    Editorial: A crise de sempre na USP

    01/05/2014 02h00

    Completados 90 dias na reitoria da USP, Marco Antonio Zago enviou a docentes, alunos e funcionários da principal universidade do país uma carta de alerta. Em tom de apelo, ele pede apoio para enfrentar a "difícil conjuntura" das finanças da instituição.

    Dizer "difícil" é dizer muito pouco. A USP se acerca, ao que parece, do limiar da insolvência.

    Só a folha de pagamento monta a 105% de sua dotação orçamentária. Esta é alimentada principalmente com 5% do ICMS pago por contribuintes paulistas (realizada a previsão do governo estadual de arrecadar R$ 122,8 bilhões neste ano, a soma superaria R$ 6 bilhões). Em 2011, o gasto com pessoal abocanhava fatia menor, 80%, restando 20% para investimento e custeio.

    Resta evidente que se trata de um curso insustentável. As medidas emergenciais baixadas por Zago logo após a posse, do congelamento de contratações de professores e funcionários à suspensão de obras previstas, não parecem ter sido suficientes. A sangria de recursos se mantém firme.

    Para honrar seus pagamentos, a USP tem lançado mão de verbas da reserva estratégica. Esse fundo tem por finalidade garantir à instituição condições de fazer frente a gastos com decisões judiciais, suportar o aumento da despesa previdenciária, fomentar linhas de pesquisa inovadoras e fazer investimentos de vulto, e não esvair-se no buraco sem fundo da folha.

    Mesmo com as providências de austeridade decididas pelo novo reitor, a reserva continua sendo solapada. Cerca de R$ 250 milhões caíram nesse sorvedouro só nos três primeiros meses do ano.

    De R$ 2,56 bilhões no final de 2013, o fundo refluiu para R$ 2,31 bilhões. Em 2012, estava em R$ 3,2 bilhões. Nessa cadência, em até dois anos a reserva estaria esgotada, calculam os administradores.

    A USP abriga 249 cursos de graduação e 58 mil alunos. Produz 22% da pesquisa brasileira, o que a põe em liderança acadêmica inconteste. Tem razão o reitor ao dizer na carta que docentes, pesquisadores e funcionários constituem seu maior patrimônio e que não há como comprimir-lhes os salários.

    Essa é a realidade da USP, e Zago tem a responsabilidade de impedir que se deteriore.

    O reitor decepciona, contudo, ao pedir apenas compreensão da comunidade universitária. Não basta postergar investimentos; um líder tem a obrigação de reabrir-lhes espaço, percorrendo também as vias mais impopulares: eliminar desperdícios e ineficiências e pôr em debate a cobrança de mensalidades de quem pode pagar.

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