• Opinião

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    Dilma Pena e João Paulo Tavares Papa: Corrida contra o Tempo

    01/06/2014 02h06

    A situação enfrentada pelo sistema Cantareira, maior fonte de abastecimento da região metropolitana de São Paulo (RMSP), ocasionada pela severa estiagem do último verão, a pior dos últimos 84 anos, e por temperaturas muito acima das médias registradas, tem suscitado, com razão e oportunamente, intenso debate sobre a gestão da água.

    Os índices de perdas de água passaram a ter grande repercussão. E não poderia ser diferente. Trata-se de um dos pilares de qualquer política séria de investimentos em saneamento, sobretudo na Grande São Paulo. Além de ser a região metropolitana mais populosa do país, está localizada na nascente da bacia do Alto Tietê e, por esse motivo, tem disponibilidade hídrica por habitante extremamente crítica, somente comparável a regiões semiáridas.

    O controle dos níveis de perdas tem sido parte importante dos esforços feitos nas últimas décadas juntamente com a captação, o tratamento e a distribuição de um recurso tão fundamental. Desde 1995, a Sabesp investiu R$ 9,3 bilhões em infraestrutura de abastecimento na RMSP, ampliando a capacidade de produção de 57,6 para 73,2 mil litros por segundo –aumento que, sozinho, abasteceria Salvador e Fortaleza.

    Para priorizar a redução da média histórica dos índices em questão, a Sabesp lançou-se a um trabalho incansável e desafiador, que se divide em duas frentes. A primeira está direcionada ao combate das chamadas tecnicamente de perdas físicas, causadas por vazamentos nas redes de distribuição. O combate às perdas comerciais constitui a outra frente de atuação. Essa é a água que some das redes por meio dos "gatos", fraudes ou imprecisão na medição dos hidrômetros.

    Entre 2009 e 2020, estão previstos investimentos de R$ 6,1 bilhões para redução de perdas. Já foram executados R$ 1,5 bilhão, dos quais R$ 424 milhões somente em 2013. Estamos trocando equipamentos, tubulações, hidrômetros e válvulas redutoras de pressão, além da execução de uma intensa varredura atrás de fraudes com equipamentos de altíssima tecnologia.

    Em relação aos vazamentos visíveis, a companhia também conta com o auxílio da população, cada vez mais atenta. Somente nos dois primeiros meses do ano, os alertas, grande parte feita diretamente ao e-mail da presidência, aumentaram 200% na RMSP, com tempo médio de 33 horas para resolução. Trabalhamos para baixar o tempo de atendimento para até 24 horas.

    O balanço dessas ações é muito positivo: nos últimos nove anos, o índice de perdas totais de distribuição caiu 9,8%. O volume de água que deixou de vazar pelos canos é suficiente para abastecer permanentemente uma cidade do porte de Curitiba, com 2 milhões de habitantes.

    Tanto empenho tornou a Sabesp referência para países e Estados brasileiros, que nos procuram em busca de conhecimento e tecnologia adquiridos em parceria com o Japão, país com sucesso na área. Nosso patamar de 31,2% de perdas totais (20,3% físicas e 10,9% comerciais) está entre os melhores do país, cuja média ultrapassa os 40%. Em alguns Estados, esse índice é superior a 50%, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

    Mas ainda há muito a ser feito. Essa é uma corrida permanente contra o tempo, sobretudo na Grande São Paulo, onde surgem, a todo instante, novas áreas de ocupação irregular e se convive em um padrão urbanístico complexo e superpovoado. Para se ter uma ideia, a rede atual de distribuição de água nessa região possui extensão de 57 mil km, o que equivale a uma vez e meia a circunferência terrestre.

    Trabalhamos para chegar à próxima década com índice de perdas físicas próximo a 16%. Para isso vamos avançar e inovar ainda mais e continuar incentivando os hábitos racionais de consumo. Uma tendência que os paulistas já demonstraram disposição em adotar.

    DILMA PENA é diretora-presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de SP)
    JOÃO PAULO TAVARES PAPA foi diretor de Tecnologia e Meio Ambiente da mesma companhia (2013-2014)

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