• Opinião

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    Adrián Pablo Funjul*: Sobre orçamento e responsabilidades

    06/06/2014 02h00

    Nós, representantes de diversas categorias no Conselho Universitário da USP durante a gestão reitoral anterior, viemos nos manifestar a respeito do artigo "Orçamento e responsabilidade", assinado pelo atual reitor, Marco Antônio Zago, e publicado pela Folha (26/5).

    Questionamos as afirmações realizadas pelo reitor dando a entender que os pró-reitores da gestão de João Grandino Rodas (2010-2014) e os membros do Conselho Universitário teriam carecido de informações que pudessem fazer prever a conjuntura atual.

    Se faltou informação, cabe perguntar por que continuaram em cargos que claramente comprometiam a relação com aquela gestão, que já era polêmica no momento em que, no início de 2012, todos os pró-reitores pediram ao Conselho Universitário sua ratificação no cargo.

    E podemos afirmar, pelo que presenciamos como membros do Conselho Universitário, que os pró-reitores, como todos os outros conselheiros, foram advertidos, em sessão pública e registrada em atas, sobre diversos lugares obscuros nas diretrizes orçamentárias que a reitoria trazia ao colegiado como já aprovadas ad referendum.

    Com efeito, nas atas da 949ª sessão do colegiado, de 18 de dezembro de 2012, que aprovou o orçamento para 2013, pode-se ler claramente como diversos representantes de categorias docentes, estudantis e de funcionários questionavam uma previsão não explicada de quantia que girava em torno de R$ 800 milhões. Também deixamos constar em atas que a aprovação do orçamento sem que o conselho tivesse discutido previamente as diretrizes baixadas pela reitoria contrariava o estatuto da universidade.

    Porém, a mesma ata permite ver que nenhum pró-reitor ou diretor de unidade presente fez qualquer questionamento e que apenas nós, representantes de categorias que constituímos minoria, fomos contrários ou nos abstivemos. Nas mesmas atas podem-se ler, depois da aprovação, ameaças veladas proferidas pelo então reitor, João Grandino Rodas, contra uma representante de pós-graduandos, devido às suspeitas por ela expressas em relação aos destinos do montante não explicado. A ata está disponível no site da USP.

    Não foi informação o que faltou, mas disposição para sair da mecânica de obediência vertical ao poder central que caracteriza o Conselho Universitário da USP. Essa subordinação inclui a surdez a toda manifestação dissidente, surdez que hoje permite aos dirigentes dizer que "nada sabiam".

    O escalão mais alto do mecanismo de subordinação é o dos próprios reitores ao governador do Estado, o que explica por que o atual reitor, Zago, e o anterior, Rodas, nada digam em seus artigos a respeito da suposta polêmica sobre os recursos oriundos de impostos que o governo deixou de repassar às universidades nos últimos cinco anos e que, segundo cálculos das associações docentes, beiram R$ 2 bilhões.

    ADRIÁN PABLO FANJUL, 51, foi representante de professores doutores no Conselho Universitário da Universidade de São Paulo entre 2011 a 2013
    *Também subscrevem este artigo:
    ADRIÁN CAVALHEIRO FUENTES, 26, representante discente de graduação no Conselho Universitário da USP entre 2011 e 2013;
    LUIZ GUSTAVO DA CUNHA SOARES, 31, atual representante discente de pós-graduação no Conselho Universitário da USP;
    RENAN H. QUINALHA, 28, representante discente de pós-graduação no Conselho Universitário da USP entre 2011 e 2013

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