• Opinião

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    Guilherme Boulos: Uma honra para o MTST

    17/06/2014 02h00

    O MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) recebeu com muita honra o artigo do empresário Rogério Amato publicado nesta seção ("O MTST e o estado de anomia", 12/6). Despertar preocupação e acusações por parte de gente como Amato é algo que nos reforça a convicção de estar no caminho correto.

    Não se trata de qualquer um. Rogério Amato, o homem da confederação patronal do comércio, é oriundo da fina flor da elite brasileira. Seu pai, Mario Amato, foi aquele presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) que apoiou Fernando Collor (presidente da República entre 1990 e 1992) e disse que os empresários fugiriam do país se Lula (presidente da República entre 2003 e 2010) vencesse as eleições presidenciais em 1989. Pena que não. Os Amato e sua turma ainda estão por aqui, sugando dinheiro público, concentrando renda e patrocinando um pensamento conservador.

    Representam a elite intolerante e autoritária. Os que xingaram Dilma Rousseff na Arena Corinthians, apesar de sua classe ter engordado bilhões com a Copa do Mundo; os que reclamam que o aeroporto anda parecendo rodoviária; os que exigem providências perante a pequena parte que os incomoda desta democracia –as manifestações populares. Enfim, a velha elite patrimonialista que não aceita que ninguém ganhe no país a não ser ela.

    Amato reclama em seu artigo que o MTST estaria pressionando o Judiciário, afrontando o direito de propriedade e furando a fila dos "cidadãos de bem", que esperam pacientemente por seus direitos. Exige ainda ação das elites urbanas –que taxa de passivas– e das autoridades em defesa da ordem.

    A burguesia brasileira parece seguir a chamada moral de hotentotes, cujo lema é "para mim pode, para você não". Chega a ser engraçado vê-los falar de pressão indevida sobre o Judiciário quando as associações empresariais costumam bancar os congressos de juízes em hotéis e praias paradisíacas. Quanto ao direito de propriedade, esquecem-se de que a mesma Constituição que o garante exige que a propriedade exerça função social, o que não é o caso das áreas ocupadas pelo MTST.

    Já a fila habitacional merece uma consideração à parte. Tem sido objeto de gritaria de editoriais e partidos de direita. Uma pergunta: que filas são essas? Quais são seus critérios? Quem acompanha a política habitacional no país sabe bem que essas filas são um verdadeiro engodo. Há pessoas que esperam décadas sem qualquer resultado. E frequentemente são definidas por interesses político-eleitorais. Acreditar que as prefeituras, que gerenciam os cadastros habitacionais, são entidades neutras e isentas de critério político é de uma incrível ingenuidade.

    Se essas filas funcionassem de fato, o movimento popular de luta por moradia não teria a força que tem, com a adesão de centenas de milhares de pessoas necessitadas.

    Mas, para além desses lugares-comuns, o texto de Amato traz algo preocupante: a tendência cada vez mais forte de exigir repressão e criminalização das lutas sociais. Combate ao caos, bagunça ou desgoverno sempre foram as bandeiras de uma burguesia golpista, defensora de soluções autoritárias. Estão começando a bradar desavergonhadamente suas exigências intolerantes e violentas.

    Queremos deixar claro, da parte do MTST, que isso não nos intimidará. Permaneceremos nas ruas e nas lutas por transformações sociais profundas em nosso país.

    Aliás, essa é uma oportunidade de respondermos também àqueles que –na imprensa ou fora dela– propagaram uma ideia falsa de que a conquista obtida pelo MTST em nossa pauta de reivindicações nos tiraria das ruas. Que teríamos feito um acordo para não realizar mobilizações neste período.

    Estar nas ruas é um ponto inegociável para o MTST. Nelas sempre estivemos e delas não sairemos. Ao menos enquanto o Brasil for comandado por gente como Rogério Amato e seus colegas de salão. Para os incrédulos, as ações dos próximos dias responderão isso mais do que qualquer palavra.

    GUILHERME BOULOS, 32, é membro da coordenação do MTST em São Paulo
    EDSON SILVA, 33, é membro da coordenação do MTST em Brasília
    NATALIA SZERMETA é membro da coordenação do MTST em São Paulo

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