• Opinião

    Monday, 29-Apr-2024 02:10:34 -03

    Editorial: Arauto de Obama

    18/06/2014 02h00

    Depois de acompanhar a vitória da seleção de seu país sobre a equipe de Gana, em Natal, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, encontrou-se nesta terça (17) com a presidente Dilma Rousseff.

    A visita é um gesto de Washington para superar o mal-estar provocado pelas revelações de que o serviço secreto norte-americano espionou a mandatária brasileira.

    Quando o caso veio à tona, no ano passado, Dilma reagiu com indignação. Cancelou uma visita de Estado aos EUA e exigiu do presidente americano, Barack Obama, o compromisso formal de que novas incursões não se repetiriam.

    A reação, proporcional à gravidade dos fatos, congelou o diálogo e transferiu para a Casa Branca a iniciativa da reaproximação.

    Em janeiro, Obama anunciou medidas para controlar as atividades de inteligência e declarou que seu país não iria mais espionar líderes de nações aliadas e amigas –categoria em que o Brasil por certo se enquadra.

    Passado o momento de maior tensão, a Copa e a proximidade das eleições brasileiras ofereceram ambiente propício ao degelo.

    Para Joe Biden, o torneio é um bom palco para demonstrar simpatia e ampliar a visibilidade de sua passagem pelo continente. Para Dilma, a visita reconciliatória ajuda a conter críticas ao antiamericanismo de setores do governo e à tendência da política externa brasileira de pautar-se por critérios ideológicos.

    Os EUA são a maior economia do planeta e o segundo parceiro comercial do Brasil, atrás da China. As perspectivas de expandir o fluxo comercial e ampliar investimentos não podem ser desprezadas. Pelo contrário, as oportunidades existem e parecem mutuamente subaproveitadas.

    Interesses conflitantes e um histórico de preconceitos e desconfianças mútuas travam as relações entre os dois países.

    Washington, por exemplo, não vê com bons olhos as pretensões do Brasil a ser líder regional num contexto que prescinda de sua presença nas decisões; por sua vez, o governo brasileiro teme o poderio norte-americano e alimenta a retórica contra sua suposta vocação imperialista.

    Em entrevista a esta Folha, o vice-presidente dos Estados Unidos mencionou uma série de interesses comuns e disse que os temas em vista são variados.

    Resta saber se haverá competência e boa vontade para avançar. A visita de Joe Biden já virou a página da crise de espionagem, mas é cedo para saber em que ritmo a agenda bilateral irá evoluir.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024