• Opinião

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    Marcelo Kfoury Muinhos*: O paradoxal declínio do desemprego

    29/06/2014 02h00

    A economia brasileira vem apresentando desempenho abaixo do desejado. O mercado reduziu a projeção de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014 para pouco mais de 1%. Desde 2011, somente em três trimestres (1º trimestre de 2011, 4º trimestre de 2012 e 2º trimestre de 2013), o crescimento do PIB superou o que estimamos ser o potencial da economia –em torno de 2,5% ao ano.

    Diante desse quadro, seria plausível esperar o enfraquecimento sistemático do mercado de trabalho. Mas, ao contrário, têm sido registrados declínios sucessivos da taxa de desemprego, que atingiu o patamar mínimo histórico de 4,6% em abril. Por que isso ocorre?

    Os dados que temos mostram que o comportamento do emprego (formal e informal) desde o segundo semestre de 2013 tem sido pior do que aquele conferido durante o auge da recessão de 2008/2009, estando em torno de zero em 2014, sempre na comparação com o ano anterior.

    Entretanto, a PEA (população economicamente ativa) tem apresentado desempenho ainda pior do que o emprego, consequentemente, "desvendando" o paradoxo que dá nome a este artigo.

    Desde meados de 2013, a PEA sofre uma desaceleração pronunciada. As taxas interanuais de variação indicam contrações sistemáticas desde outubro de 2013, atingindo -0,8% em abril. Para nós, essa queda da força de trabalho está em parte relacionada ao declínio da população jovem (entre 18 a 24 anos) nos últimos 12 meses, provavelmente refletindo os seguintes fatores não excludentes: 1) postergação da entrada de jovens no mercado de trabalho, refletindo impactos dos programas educacionais do governo; 2) elevação do contingente de pessoas que não estudam nem trabalham. Neste grupo, a maior parte seriam mulheres (em torno de 70%), sobretudo mães com pelo menos um filho (57%); 3) aumento da renda da população de classes mais baixas. De acordo com o professor Naércio Menezes Filho, a elevação da renda faz com que pais incentivem os filhos a postergar a entrada no mercado de trabalho.

    Esse diagnóstico parece conter características temporárias e leva a algumas conclusões. A menor procura por trabalho por parte dos jovens implica maiores pressões salariais para este grupo, mantendo a inflação do grupo serviços em seus níveis elevados (acima de 8%).

    Como se espera alguma desaceleração do ritmo de expansão dos programas educacionais, o crescimento da força de trabalho da população jovem tende a se normalizar, elevando a taxa de desemprego. Se o crescimento econômico permanecer em ritmo insatisfatório, a relação entre criação de emprego e alta dos salários tenderá a desacelerar.

    O resultado do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de maio –o pior para o mês em 22 anos– serve como mais uma evidência dessa tendência. A mesma força de trabalho (PEA) que hoje mantém a taxa de desemprego cadente deverá ser a principal causa da elevação, ainda que gradual, da taxa de desemprego nos próximos meses.

    MARCELO KFOURY MUINHOS, doutor em economia pela Universidade de Cornell (Estados Unidos), é superintendente do departamento de economia do banco Citi Brasil
    *Também subscrevem este texto:
    LEONARDO PORTO DE ALMEIDA, doutor em econômica pela USP, economista do Citi Brasil; e MARCIO ALDRED GREGORY, graduando em economia pela Universidade de São Paulo

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