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    Naief Haddad: Mordida nas previsões

    DE SÃO PAULO

    30/06/2014 02h05

    Talvez o que faça das Copas um evento tão fascinante seja a imprevisibilidade.

    O que dizer da Costa Rica como líder do "grupo da morte", que ainda tinha Itália, Uruguai e Inglaterra? O time foi além e agora está entre as oito melhores seleções do Mundial.

    Receoso de ser criticado por inverossimilhança, o roteirista mais inventivo não pensaria numa história como a do uruguaio Luis Suárez.

    Depois de uma cirurgia no joelho, que quase o tirou da Copa, estreou com uma atuação brilhante e renovou as esperanças do Uruguai pela classificação para a segunda fase, o que, de fato, aconteceu. Ganhou status de herói.

    No terceiro jogo, contudo, tascou uma mordida no ombro de um zagueiro italiano e foi afastado do torneio.

    O Uruguai está indignado com o rigor da decisão, e Mujica, o presidente do país, classificou a punição como "monstruosa agressão". Aguardem os próximos capítulos.

    As surpresas não se restringem a episódios como o de Suárez. A Copa deste ano tem sido especialmente pródiga em dar rasteira nas hipóteses que, de tão repetidas no Brasil, tornaram-se bordões. Previsões –e não só dos bolões– caem por terra, uma a uma.

    1) "Imagina na Copa" - O verbo "imaginar" ganhou contornos cômicos e dramáticos, como se o caos estivesse prestes a dominar o país.

    Os protestos murcharam. Embora aquém das necessidades da economia e do turismo, os aeroportos não registraram problemas graves. De modo geral, os estádios têm oferecido boas condições aos torcedores. Os treinos das seleções se tornaram festas familiares.

    2 ) "A Copa das Copas" - Ainda que o saldo seja positivo, por ora, o mantra da presidente Dilma se situa na grande área da demagogia.

    Por falha de segurança, chilenos invadiram e danificaram a sala de imprensa do Maracanã. A correria para a finalização dos estádios deixou suas marcas. A principal, até aqui, são os gramados, alvo da reclamação de diversos técnicos.

    Quanto aos estádios, aliás, poderiam ser erguidos com custos mais baixos sem detrimento da qualidade. E haja dinheiro público.

    3 ) "Bom era o futebol do meu tempo..." - Nostalgia demais acaba em mau humor e cegueira. Na primeira fase, as partidas tiveram uma média de 2,83 gols, a maior desde 1958. Já vimos partidas memoráveis, como França 5 x 2 Suíça e Alemanha 4 x 0 Portugal.

    4 ) "Pelé, calado, é um poeta" - O chiste de Romário não é sem fundamento. Ao longo das últimas décadas, o maior jogador de futebol da história não nos poupou de comentários infelizes.

    No entanto, Pelé tem dito, sem titubear, que o Brasil chegava a uma Copa em uma condição incomum, com a defesa melhor que o ataque.

    Quatro jogos depois, ainda resta alguma dúvida?

    NAIEF HADDAD é editor do caderno "Esporte"

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