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    Editorial: A seleção gira em falso

    23/07/2014 02h00

    A Confederação Brasileira de Futebol oficializou a recondução de Dunga ao cargo de técnico da seleção nacional. Na semana passada, a entidade havia designado o ex-goleiro Gilmar Rinaldi para o posto de coordenador de seleções.

    As escolhas vieram na sequência da sofrível participação do Brasil na Copa do Mundo, marcada pelos humilhantes 7 a 1 para a Alemanha –o placar mais elástico que se impôs à equipe em toda sua história.

    O revés, ao qual se seguiu uma derrota por 3 a 0 diante da Holanda, provocou reações de incredulidade e revolta, mas também propiciou reflexões acerca do atual estágio do futebol brasileiro.

    Formou-se relativo consenso sobre a necessidade de realizar mudanças com vistas a profissionalizar a gestão futebolística, fortalecer clubes, aprimorar a formação de talentos e atualizar métodos de treinamento. Seria algo semelhante ao que a Alemanha, com evidente sucesso, fez nos últimos anos.

    Imaginava-se que o impacto do fiasco da Copa levasse a CBF a uma reorientação de rumos. Os anúncios não apontam, porém, para essa direção. Liderada por dirigentes anacrônicos e com perfil autocrático, a própria entidade surge como obstáculo à modernização.

    Não se trata de execrar os nomes escolhidos, mas de reconhecer que, com suas decisões, a CBF revela estar olhando para um passado controverso, quando deveria mirar um futuro promissor.

    Questiona-se a envergadura de Gilmar Rinaldi para o cargo e sua atuação recente como empresário de jogadores, fato que reforça teorias sobre a seleção ser um grande balcão de negócios.

    Quanto a Dunga, embora tenha obtido resultados positivos, fracassou na Copa de 2010 e seguiu com escassa experiência. Em toda sua carreira, treinou apenas um clube, o Internacional de Porto Alegre. Não consta que tenha feito cursos; tampouco parece ter abandonado a preferência pelo futebol carrancudo e disciplinado –no que supera o próprio Felipão.

    Dunga assume com a perspectiva de permanecer exclusivamente na função até a próxima Copa, em 2018. O time que disputará a Olimpíada de 2016, no Rio, ficará nas mãos de Alexandre Gallo, que se dedicava às equipes de base.

    Tal estabilidade, contudo, pode ser uma quimera; maus resultados, no Brasil, costumam provocar mudanças no meio do caminho.

    Perdida a oportunidade de indicar figuras mais renomadas e com maior respaldo da opinião pública, não será surpresa se a torcida demonstrar crescente desinteresse por uma seleção que já não tem a mesma mística. A reversão desse processo, ou seu aprofundamento, depende do trabalho de Dunga.

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