SÃO PAULO - Por que tanto barulho em torno do aeroporto construído pelo senador Aécio Neves na fazenda de seu tio no interior de Minas Gerais? O terreno foi desapropriado pelo governo estadual antes da execução da obra. O tio do tucano não recebeu um centavo até agora. Ele contesta o valor da indenização. Não há vestígio de corrupção.

Mas há um bom motivo para examinar o assunto com atenção. Ao escolher o local em que o aeroporto seria construído, Aécio misturou um empreendimento público com os interesses de sua família. Entender o que o levou a agir assim pode ajudar a conhecê-lo melhor, agora que ele quer ser presidente da República.

O aeroporto beneficia Aécio e seus parentes de duas maneiras. Primeiro, a comodidade. Ele fica ao lado da sede da fazenda do tio e a 6 km da Fazenda da Mata, propriedade familiar que é o refúgio predileto do senador. O primo de Aécio disse que ele usa a pista sempre que visita a cidade. O tucano se recusa a falar do assunto.

Em segundo lugar, a construção do aeroporto poderá ajudar o tio de Aécio a resolver uma antiga pendência judicial, como a Folha mostrou nesta sexta (25). Réu numa ação civil pública por causa da pista de pouso de terra batida construída pelo governo estadual na sua fazenda antes do aeroporto, ele poderá usar o dinheiro da desapropriação do terreno para pagar sua dívida com a Justiça.

Se Aécio não tivesse construído o aeroporto em Cláudio, seu tio teria que se virar para resolver o problema sem o dinheiro da indenização. Ele poderia até perder um pedaço da fazenda, com a antiga pista de pouso e o que mais houvesse em cima.

Não há evidência de que a decisão de construir o aeroporto da cidade tenha sido tomada com a intenção de ajudar um parente em apuros na Justiça. Mas era fácil perceber desde o início que ele poderia ser beneficiado pela obra. Para manter separados os interesses do Estado e os da família de Aécio Neves, bastava mandar construir o aeroporto em outro lugar.