• Opinião

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    Editorial: Habitação sem progresso

    29/07/2014 02h00

    Já seria inaceitável, de qualquer modo, que servidores da administração municipal de São Paulo, remunerados com recursos do contribuinte, destinassem todo seu expediente, ou uma parte dele, a interesses meramente partidários.

    Quando o assunto a que deveriam se dedicar é tão premente e intrincado quanto o combate ao deficit habitacional –problema que aflige parcela expressiva da população paulistana–, trata-se de conduta com consequências ainda mais gravosas à sociedade.

    Esse, lamentavelmente, é o retrato da rotina de muitos funcionários da Cohab, órgão da prefeitura responsável pela construção de moradias populares na cidade.

    Reportagem desta Folha flagrou cinco funcionários da companhia metropolitana em idas e vindas, durante o horário de trabalho, à sede do Partido Progressista (PP) e ao comitê político de Guilherme Ribeiro, filho do secretário-geral da legenda e candidato a deputado federal no pleito de outubro.

    Ter controle sobre a área de habitação municipal, o que incluía a direção da Cohab, foi exigência do deputado federal Paulo Maluf para selar o apoio de sua agremiação ao então candidato Fernando Haddad (PT). Depois de eleito, o prefeito cumpriu sua parte no acordo.

    Foi uma bênção para o PP. Aliados, líderes e familiares de dirigentes da sigla constam entre os mais de 130 funcionários em cargos de confiança da empresa municipal de habitação, pelos quais recebem salários de até R$ 13 mil. Como compensação, a legenda cobra desses servidores tributos a partir de R$ 200 –inclusive dos que não têm ligações com o partido.

    Tal devoção a interesses paroquiais constitui, sem dúvida, uma das razões pelas quais o poder público se mostra tão moroso no enfrentamento dos problemas habitacionais de São Paulo. Na região metropolitana, o deficit de moradias chegou a 700 mil no ano de 2012.

    Segundo a própria Secretaria Municipal de Habitação, além de investir em obras de infraestrutura e de regularização fundiária, seria preciso construir 230 mil unidades para pôr um fim definitivo à carência nesse setor.

    No início de seu mandato, Haddad se comprometeu com a entrega de 55 mil lares até 2016. Já seria insuficiente, é verdade. Com os métodos oferecidos pelo PP, contudo, não parece que mesmo esse objetivo possa ser cumprido.

    Demitir e afastar funcionários que subvertem a lógica do serviço público, como fez a prefeitura após ter ciência do caso, é o mínimo. Reais progressos na habitação dependem de muito mais.

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