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    Editorial: Fendas na Colômbia

    11/08/2014 02h00

    O início do segundo mandato do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, na última quinta-feira, marca também o começo da contagem regressiva para que seu governo conclua, nos próximos quatro anos, as arrastadas negociações de paz com as narcoguerrilhas do país.

    A tarefa, que nunca foi fácil, debilitou-se nas últimas semanas, após ataques das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) contra alvos não militares. As ações pusilânimes incluem a explosão da rede elétrica do porto de Buenaventura. Cerca de 400 mil moradores ficaram às escuras.

    A recente ofensiva do grupo serviria para forçar um cessar-fogo durante as negociações, medida desde o início descartada por Santos. Baseado em experiências de governos anteriores, o presidente colombiano teme que as Farc se fortaleçam ao longo da trégua.

    Diante disso, a única consequência real dos ataques foi o desgaste das Farc, de imagem já corroída, perante a opinião pública. E esta terá, via referendo, a palavra final sobre um eventual acordo de paz.

    Pressionado a dar uma resposta aos atentados, Santos afirmou que as Farc estão cavando "a própria cova política". E concluiu: "Se continuarem, estarão colocando fogo no processo de paz".

    A imagem pode ser forte, mas é batida; pior para o presidente, ele se arrisca a cair no mesmo buraco. Em uma eleição centrada nas negociações de paz, Santos ficou em segundo lugar no primeiro turno e venceu o seguinte com apenas 50,95% dos votos contra Óscar Zuluaga, apadrinhado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).

    Desafeto do seu sucessor e atualmente senador, Uribe fez uma oposição radical. Chegou ao ponto de a bancada do seu partido (Centro Democrático, 39 parlamentares, ou 15% do Congresso) boicotar a cerimônia de posse de Santos.

    Além disso, pesquisas de opinião mostram que o ceticismo vem crescendo à medida que as negociações, desenvolvidas há 20 meses em Havana, se arrastam sem progressos nos temas mais complexos, como o equilíbrio entre Justiça e anistia, a deposição das armas e a integração à vida política.

    Todos esses problemas não mudam o fato de que Santos ganhou dos colombianos um mandato para avançar no caminho da paz.

    Nos próximos meses, é preciso que os atores envolvidos, principalmente as guerrilhas de esquerda, saibam estar à altura da maior oportunidade de encerrar o conflito de cinco décadas.

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