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    O Brasil está preparado para enfrentar o ebola? Sim

    16/08/2014 02h00

    JARBAS BARBOSA DA SILVA JÚNIOR: COMO O PAÍS SE PREPAROU

    O vírus ebola produz uma doença muito grave, com letalidade que pode alcançar até 90%. Um surto típico inicia-se quando uma pessoa entra em contato com a carne crua, sangue ou secreções de um animal infectado.

    A partir desse primeiro caso, pessoas que tenham contato direto com seu sangue ou outros fluidos corporais, bem como objetos ou superfícies contaminadas, podem ser infectadas, passando a alimentar uma cadeia de transmissão.

    O Brasil está preparado para detectar e responder, de maneira rápida e eficaz, à eventual situação de um viajante vindo do exterior com a doença, única possibilidade real de lidarmos com o ebola. As características dessa doença não apontam como factível a ocorrência de surtos no Brasil, ou em outros países fora do continente africano.

    Além disso, o Brasil vem fortalecendo sua preparação para detecção e resposta às emergências de saúde pública, utilizando as mais modernas estratégias e tecnologias disponíveis e as lições aprendidas com emergências reais, como a pandemia da gripe H1N1 de 2009.

    Dispomos de um Plano de Preparação e Resposta para Emergências de Saúde Pública –que vem sendo utilizado, na vida real, para o monitoramento dos grandes eventos de massa que tivemos em 2013 (Copa das Confederações) e 2014 (Copa do Mundo) e no atual momento.

    Ativamos o Centro de Operações de Emergências em Saúde, para acompanhar, com informações fidedignas prestadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a situação epidemiológica do surto. Isso nos permite realizar cuidadosa avaliação de risco e adotar as medidas adequadas à proteção do nosso país.

    Atualizamos e divulgamos as orientações técnicas, procedimentos e normas para as duas possibilidades de casos em viajantes internacionais: alguém que adoece durante a viagem ou que realize a viagem no período de incubação do vírus.

    O Brasil dispõe de hospitais de referência para atender a um eventual caso importado, em condições seguras. Além disso, temos laboratórios capazes de realizar exames de confirmação de casos. Dispomos também de pessoal capacitado em distintas áreas –desde o correto gerenciamento de situações de crise ao acondicionamento seguro de materiais biológicos de alto risco, como é o caso do ebola.

    Estar preparado não significa baixar a guarda. Em situações como esta, a primeira regra da boa preparação é continuar alerta, avaliando a situação real e adotando todas as medidas adequadas a cada momento.

    O surto atual –que produziu, desde dezembro de 2013, 2.127 casos e 1.145 mortes– apresenta uma duração maior, se comparado a epidemias anteriores. Isso é consequência da dificuldade que países da África ocidental possuem para implantar as medidas básicas, capazes de impedir a transmissão.

    Tal situação levou a OMS a declarar emergência de saúde pública mundial, medida que tem como finalidade passar a clara mensagem de que os países afetados, sem ajuda internacional, não conseguirão conter a epidemia. O Brasil atendeu ao apelo, enviando a esses países 15 toneladas de medicamentos e de materiais médicos, além de doar recursos na ordem de R$ 1 milhão.

    A medida humanitária é a melhor maneira de proteger não apenas o Brasil como também outros países contra a ameaça do ebola. Ou seja, a ideia é conter rapidamente o surto em sua fonte, para eliminar a possibilidade de exportação de casos.

    JARBAS BARBOSA DA SILVA JÚNIOR, 57, médico epidemiologista, é secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde

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