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    Editorial: O retorno de Marina

    18/08/2014 02h30

    O súbito desaparecimento de Eduardo Campos exerce o efeito que se antevia sobre a corrida presidencial. Pesquisa Datafolha publicada nesta edição mostra que Marina Silva, sua vice e agora substituta pelo PSB, faz quase triplicarem as intenções de voto na chapa.

    Marina aparece empatada com Aécio Neves, o candidato do PSDB (21% x 20%). Num provável segundo turno da eleição, porém, a candidata ambientalista teria leve vantagem (47% x 43%) sobre a própria presidente Dilma Rousseff (PT), até aqui favorita em todas as sondagens.

    Como se a confirmar certo clima de misticismo em redor da ex-senadora, a brutalidade de um desastre aéreo a recolocou no caminho da Presidência da República, do qual fora arredada pela própria incompetência e pela Justiça Eleitoral, quando não reconheceu as assinaturas suficientes para o registro partidário de sua Rede.

    Seu nome parece o mais identificável com o desejo de mudança, latente, mas poderoso, que as pesquisas de opinião têm constatado desde as maciças manifestações de protesto em junho do ano passado. Seu respaldo é maior nos setores que multiplicam influência eleitoral: os mais jovens, mais escolarizados e habitantes das grandes cidades brasileiras.

    Ainda assim, será preciso mais do que a intervenção do imponderável. O adversário imediato da ex-ministra do Meio Ambiente, senador Aécio Neves, conta com melhor estrutura partidária e está enraizado no coração demográfico e econômico do país, o Sudeste. Conta, ainda, com o dobro do tempo reservado a Marina na TV (enquanto a presidente tem quase o triplo do que dispõe o tucano).

    Além disso, Dilma e Aécio parecem formular mensagens mais claras do que as ensaiadas pela "terceira via", cheia de contradições que o discurso um tanto vago de Marina mal oculta.

    Como conciliar o anticapitalismo de muitos ambientalistas com o liberalismo econômico dos conselheiros da candidata? Como combinar sua filiação evangélica com o liberalismo comportamental de tantos de seus simpatizantes? Como manter-se impoluta tendo de manobrar as famigeradas engrenagens da baixa política?

    Um líder com as qualidades de Eduardo Campos fará falta, sobretudo, pelo muito que poderia ter feito. Sua ausência torna a competição ainda mais acirrada, e o resultado, mais imprevisível.

    Ocasionada pelo pior dos motivos, a recandidatura de Marina Silva é ainda assim reconfortante, por representar uma parcela importante no espectro das opiniões e ampliar o leque de escolhas viáveis à disposição do eleitor.

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