• Opinião

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    Editorial: Velho e lento continente

    19/08/2014 02h00

    Se os Estados Unidos dão motivos para otimismo quanto à recuperação de sua economia, com forte geração de empregos, o mesmo não se pode dizer da Europa.

    Os resultados recentes do velho continente não foram nada animadores. O PIB da zona do euro estagnou no segundo trimestre, e mesmo a poderosa Alemanha registrou queda de 0,2%, depois de ter avançado apenas 0,7% nos três meses anteriores. Entre os maiores países, só a Espanha conseguiu crescer alguma coisa, 0,6%.

    A perspectiva de melhorias na segunda metade do ano fica por ora em suspenso. Ainda é cedo para avaliar o impacto das sanções econômicas impostas pela União Europeia à Rússia, e vice-versa.

    Seja como for, verifica-se, entre os adeptos do euro, diferenças de desempenho como consequência da fragmentação financeira –jargão do Banco Central Europeu para designar a aversão das instituições a emprestar para pequenas e médias empresas nos países mais atingidos pela crise de 2008.

    Em uma união monetária, não deveria ser assim. Os bancos americanos, por exemplo, não fazem distinções entre uma firma na Califórnia e outra na Flórida; o que importa é a saúde da companhia.

    Na Europa, os bancos dos países centrais atraíram depósitos nos últimos anos, mas os recursos não voltam na forma de crédito. O BCE, por isso, tem atuado para ajudar o dinheiro a fluir.

    Enquanto isso, a inflação cai. Nos últimos 12 meses, os preços ao consumidor subiram apenas 0,4%, muito aquém da meta do BCE: "abaixo, mas perto de 2%".

    Cresce entre os analistas a percepção de que a Europa corre riscos de deflação, o que aumentaria a dificuldade das nações endividadas. Já não se descarta, por isso, que o BCE siga o banco central americano e passe a injetar dinheiro diretamente nos mercados.

    No atual contexto, os juros têm sido cada vez menores na Europa. As taxas de longo prazo na Alemanha, por exemplo, encerraram a semana passada abaixo de 1%, o menor nível em séculos –literalmente. O padrão se repete na França, na Holanda e na Itália. Como os mercados financeiros são muito integrados aos dos EUA, lá também o custo do dinheiro cai.

    Desde 2013, analistas consideravam um súbito aumento das taxas globais como o principal risco para os emergentes. Até agora, entretanto, a dinâmica tem sido a oposta. A julgar pelo desempenho europeu, a nova tendência terá seu lugar ao sol por algum tempo.

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