• Opinião

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    Editorial: Novo vice, velho vício

    21/08/2014 02h00

    Para muitos de seus eleitores, a candidatura de Marina Silva há de expressar a aspiração por uma "nova política", tal como se fez nas manifestações de junho de 2013.

    A militante ambientalista por certo preserva a aura de respeitabilidade pessoal e firmeza de compromissos que marcou sua carreira, sobretudo por ocasião de seu rompimento com o governo Lula.

    Não constitui sinal de inovação, porém, o resultado dos entendimentos que, após a morte de Eduardo Campos, no último dia 13, determinaram a nova chapa do PSB nas eleições presidenciais.

    Tendo Marina assumido, como é natural, o posto de Campos, coube ao PSB indicar o candidato a vice. Trata-se do deputado federal Beto Albuquerque, do Rio Grande do Sul. O escolhido terá, sem dúvida, todas as credenciais ideológicas necessárias para representar seu partido –o qual não se destaca por extrema rigidez nesse quesito.

    É fora de questão, entretanto, que seus compromissos em muito divergem do ideário "marineiro". No governo Lula, do qual foi vice-líder na Câmara, Beto Albuquerque teve papel de importância na liberação da soja transgênica.

    Entre seus financiadores de campanha, contam-se empresas dedicadas à produção de armas de fogo, cerveja e defensivos agrícolas. Receber contribuição eleitoral desses setores é vedado pelo estatuto da Rede Sustentabilidade, a agremiação que Marina tentou fundar.

    São, de todo modo, áreas econômicas importantes no Rio Grande do Sul, e nada há de errado no fato de um deputado representá-las.

    Diga-se, em favor de Beto Albuquerque, que também propôs leis proibindo o financiamento público a agricultores que não tenham saldado dívidas por multas ambientais; sua atuação tem procurado conciliar, ademais, os interesses do agronegócio com o estímulo à agricultura familiar.

    Com sensatez e espírito de negociação, nada impede que ambientalismo e desenvolvimento, pequena propriedade e grande produção coexistam no Brasil. Seria, ademais, visto como sinal de intransigência da candidata um veto à indicação do segundo nome.

    Ainda assim, ninguém haveria de afirmar que a chapa reflete esforços autênticos de convergência programática. Vê-se, antes, o velho processo pelo qual os candidatos à Presidência se associam a vices que lhes são complementares, ou mesmo opostos, de modo a cobrir lacunas eleitorais.

    Reproduz-se, sob o signo da pressa –mas também do cálculo–, a disparidade que caracterizou as dobradinhas Fernando Collor e Itamar Franco, em 1989, ou Luiz Inácio Lula da Silva e José Alencar, em 2002 e 2006.

    Novidade, clareza e coerência? Talvez isso fique para depois.

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