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    Editorial: Síria sem química

    23/08/2014 02h00

    Embora ofuscado por um incessante noticiário de conflitos e violência no próprio Oriente Médio, em que ganham destaque os crimes brutais da milícia radical Estado Islâmico, é digno de registro o anúncio, feito nesta semana pelo governo americano, de que o arsenal de gases tóxicos da Síria foi aniquilado com sucesso.

    Trata-se do primeiro resultado concreto de um acordo internacional assinado há quase um ano, quando negociações diplomáticas lideradas pelos EUA e pela Rússia evitaram uma iminente intervenção unilateral americana contra o regime de Bashar al-Assad.

    A ação militar era anunciada como reprimenda ao emprego de armas químicas pelo ditador contra insurgentes locais, o que resultou na morte de mais de mil pessoas.

    Diante disso, os EUA viam-se compelidos a agir. O presidente Barack Obama comprometera-se a ordenar uma incursão bélica de seu país na guerra civil síria caso essa linha vermelha fosse cruzada.

    Deu-se, contudo, o improvável. Para fugir desse desfecho, o governo Assad concordou em destruir as instalações de produção desse tipo de armamento e em entregar todo o seu arsenal químico à comunidade internacional, que ficaria responsável por inutilizá-lo.

    Não foram poucas as dificuldades que se impuseram ao esforço coordenado pela Organização para Proibição de Armas Químicas em decorrência de tal pacto.

    Basta dizer que nunca em sua história essa entidade, contemplada com o Prêmio Nobel da Paz em 2013, havia trabalhado em meio a uma guerra civil. No caso da Síria, os embates entre as Forças Armadas e a oposição já deixaram mais de 191 mil mortos e 2,5 milhões de refugiados no exterior.

    Além disso, tampouco havia sido testado o método de destruição do material nocivo em reatores a bordo de navio estacionado em águas internacionais. Os riscos de que os componentes desse tipo de arma caíssem em mãos de terroristas, porém, não recomendavam sua permanência na Síria.

    A operação foi bem-sucedida, mas mesmo o governo americano, contudo, admite os limites do feito recém-divulgado. O secretário de Estado, John Kerry, afirmou que Damasco ainda precisa destruir as plantas de produção de gases tóxicos; não se tem certeza, ademais, de que a Síria abriu mão de todas as armas a sua disposição.
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    mpõe-se também uma constatação realista. Debelado ou não o arsenal químico de Assad, continua distante o fim do conflito civil que o país vive desde 2011 –e a rápida ascensão dos radicais do Estado Islâmico na Síria e no Iraque faz com que a comunidade internacional acumule ainda mais dúvidas do que soluções.

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