• Opinião

    Sunday, 08-Sep-2024 17:12:40 -03

    Editorial: Equívocos em série

    DE SÃO PAULO

    24/08/2014 02h00

    O Brasil permanece nas últimas colocações em listas que organizam os países de acordo com a dificuldade para fazer negócios, a qualidade da mão de obra ou o número de horas demandadas para cumprir obrigações tributárias.

    São problemas institucionais, por vezes culturais, e dificilmente poderiam ser atribuídos a um governo específico. Quando o tema é competitividade, porém, a responsabilidade da administração federal e o prejuízo provocado por suas decisões aparecem com clareza.

    Estudo da consultoria The Boston Consulting Group (BCG) mostra que o custo de produzir aqui é 23% maior do que nos EUA. Em 2004, era 3% menor. Entre 25 países analisados, o Brasil se sai mal também na comparação com outros emergentes, como China, México, Índia e Rússia.

    O BCG considerou quatro fatores cruciais: salários na indústria, produtividade, custo da energia e taxa de câmbio. Em todos eles o Brasil piorou nesses dez anos.

    Não surpreende, pois, que as empresas brasileiras tenham dificuldade de disputar o mercado internacional e já percam terreno no ambiente doméstico. Calcula-se que, neste ano, a indústria sofrerá contração de quase 2%.

    A situação decorre em especial dos seguidos erros de política econômica. Um dos principais, de natureza estratégica, foi o crescente protecionismo e a paralisia na busca por acordos comerciais com outros países, na contramão do que pratica o restante do mundo.

    Hoje, as multinacionais conduzem a divisão de produção, que será cada vez mais regionalizada e centrada em locais de baixo custo. O resultado é o isolamento das empresas brasileiras das cadeias globais. Perdeu-se escala e acesso a insumos de ponta, sem o que não é possível competir.

    Outro erro foi a decisão de estimular o consumo a todo custo. Para esse fim, o governo expandiu o crédito em excesso e descuidou de suas contas, propiciando um cenário de inflação e juros altos.

    As intervenções em vários setores e a miríade de incentivos também bagunçaram o ambiente econômico e comprometeram o crescimento da produtividade. O preço da energia para a indústria, por exemplo, dobrou na última década, segundo a consultoria.

    Por fim, o governo fracassou em destravar os investimentos em infraestrutura, outro gargalo que eleva custos e causa desperdícios.

    Tudo isso derivou de um diagnóstico equivocado sobre o real desafio a ser enfrentado. O caminho deveria ter sido outro: mais abertura e integração comercial com outras nações, previsibilidade nas regras e ênfase na infraestrutura e na redução de custos, inclusive de juros, o que demanda uma gestão cautelosa do orçamento público.

    Para recuperar o tempo perdido, o país precisará adotar uma nova estratégia –ou, mais precisamente, terá de criar uma.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024