Cinquenta dias depois de iniciada a mais recente incursão de Israel na faixa de Gaza, representantes de ambos os lados estabeleceram nesta semana um cessar-fogo sem prazo definido de validade.
Mediado pelo Egito, o acordo interrompe a sequência de ataques que matou ao menos 2.100 palestinos (a maioria dos quais civis) e 70 israelenses (seis civis). Foi a terceira investida das Forças Armadas de Israel nos últimos seis anos –e a mais longa e violenta delas.
Inaugurada no dia 8 de julho, a operação Margem Protetora surgiu na esteira de dois crimes brutais. Primeiro, três garotos israelenses foram sequestrados e assassinados nas cercanias da Cisjordânia; como reação, nacionalistas judeus queimaram vivo um jovem palestino que vivia em Jerusalém.
O conflito não se restringiu a hostilidades dessa natureza. Israel determinou a prisão de diversos integrantes da organização radical islâmica Hamas. Por sua vez, o grupo, que controla a faixa de Gaza desde 2006, intensificou o lançamento de mísseis direcionados ao território israelense.
Essa dinâmica é a mesma de conflitos anteriores, e a intervenção de Israel, assim como as duas que a precederam, tinha os mesmos dois objetivos declarados: conter os disparos de foguetes e diminuir a capacidade militar do Hamas.
Quando o cessar-fogo foi decretado, o governo israelense, como ocorrera em 2008 e em 2012, pôde comemorar vitória pelo cumprimento de suas metas. Mas seus inimigos, como naquelas duas ocasiões, fizeram o mesmo –para os radicais, trata-se sobretudo de resistir e impor baixas ao adversário.
São sempre conturbadas, além disso, as negociações na região, já que o Hamas não reconhece a existência do Estado de Israel, enquanto este não dialoga com o que considera uma organização terrorista.
Não houve, portanto, submissão de uma das partes ou entendimento mútuo. A interrupção dos ataques é a única convergência nos interesses estratégicos divergentes.
Israel não pretende reocupar Gaza e prefere lidar com um inimigo conhecido –e enfraquecido– a abrir espaço para outras facções radicais. Já o Hamas, se insistisse no conflito, poderia perder o apoio da população civil local.
Enquanto isso, os temas de fundo permanecem intocados. Assuntos como a desmilitarização palestina e o fim do bloqueio –de bens e de pessoas– imposto à faixa de Gaza serão discutidos dentro de um mês. Nenhum avanço será obtido sem concessões mútuas, mas nada indica, até aqui, que alguma das partes esteja disposta a fazê-las.