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    Editorial: Brasil maltratado

    30/08/2014 02h00

    A cada dia, e só nas cem maiores cidades do Brasil, 2.959 piscinas olímpicas de líquido de esgoto são lançadas sem tratamento nos rios. O cálculo do Instituto Trata Brasil é dos mais acabrunhantes, e chega a chocar que o tema não tenha emergido no último debate dos candidatos à Presidência.

    De certa maneira, é a principal deficiência do país. Pelo nível de renda que alcançou, o Brasil deveria ostentar indicadores bem menos vergonhosos de saneamento.

    Se 82,7% da população já tem acesso à água tratada, marca que se aproxima da universalização, também é fato que apenas 22 (0,4%) dos 5.570 municípios brasileiros contavam com 100% de cobertura nesse serviço básico em 2012 (ano-base do estudo do Trata Brasil). Nas cem maiores cidades, o atendimento fica em 92,2%.

    E água encanada, assinale-se, é o quesito em que a situação está melhor. Quando entram em pauta coleta e tratamento de dejetos, o panorama se mostra desolador.

    A média nacional de coleta de esgotos está em 48,3%. Repetindo, para não restar dúvida: menos da metade da população tem seus dejetos recolhidos. Mesmo na centena de municípios maiores, o índice (62,5%) não basta para atender nem dois terços dos habitantes.

    Pior ainda se revela a taxa de tratamento dos esgotos –meros 38,7% na média nacional, pouco mais (41,3%) nos cem maiores municípios. E 55% das cidades tratam menos de 40% dos esgotos.

    São Paulo, a maior e mais rica metrópole, não se sai muito melhor. Recolhe 96,1% do esgoto, mas trata apenas 52,2%. Tem 99,1% da população servida pela rede de água, que no entanto enfrenta agora grave crise de abastecimento com a forte estiagem.

    Afora umas poucas cidades exemplares, como Franca (SP), Maringá (PR) e Uberlândia (MG), o país vai mal nesse indicador basilar de civilização. O que mais falta é investimento: 57% das principais cidades do país reinvestiram no máximo 20% do que arrecadaram com tarifas de água e esgoto.

    Mesmo adotando os critérios generosos do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) para o conceito de universalização –92% de coleta e 86% de tratamento de esgotos–, ela não virá nas próximas duas décadas, principal meta do plano federal.

    Mantido o ritmo de melhora observado de 2008 a 2012, o objetivo se afigura irrealizável: 61 dos 100 maiores municípios fizeram menos de um quinto das ligações de esgoto que faltam para alcançá-lo.

    É antigo o descaso com esse item crucial para a qualidade de vida, e a campanha eleitoral deste ano não teve, até agora, nenhuma novidade nesse campo básico.

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