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    Editorial: A lógica do PIB

    01/09/2014 02h00

    Um comentarista esportivo talvez dissesse que deu a lógica. A queda do PIB do segundo trimestre reitera o fracasso da política econômica no governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

    A contração foi de 0,6% na comparação com os três meses anteriores. Em relação ao mesmo período de 2013, houve redução de 0,9%. É um dos piores resultados do mundo. Nesse intervalo, os EUA e até a letárgica Europa avançaram 2,5% e 1,2%, respectivamente.

    Mesmo a periferia europeia, prostrada pela crise, saiu-se melhor. O Brasil aparece atrás da Itália (-0,3%) e da Grécia (-0,2%). Na América Latina, México e Chile, por exemplo, cresceram 1,6% e 1,9%.

    Mesmo assim, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, insiste em atribuir o mau desempenho à crise internacional. Não faz sentido, assim como é de somenos discutir se o resultado configura recessão –segundo o IBGE, as duas reduções podem ser revisadas no futuro.

    O mais importante é observar a sensação de desalento que se espalhou pelo país, um debate que interessa menos para o ministro. Os componentes do PIB, afinal, mostram um quadro preocupante: caíram tanto o investimento como a poupança interna, e as duas taxas (como proporção do PIB) estão em patamares historicamente baixos.

    Esse é o problema real. O Brasil não consegue poupar nem investir o suficiente para acelerar o crescimento da economia, sem o que não superará suas mazelas sociais.

    O fato de não conseguir fazer isso está diretamente ligado às medidas do governo nos últimos anos, que bagunçaram o ambiente de negócios e solaparam a confiança de empresários e consumidores.

    Nem mesmo o gigantismo do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal foi capaz de destravar o investimento, justamente o item que deveria ter sido o principal vetor de crescimento dos últimos anos.

    Para Mantega, sem os aportes de R$ 360 bilhões do Tesouro no BNDES –recursos que foram repassados a empresas com juros subsidiados–, o quadro seria pior. Que seja. Os resultados são pífios, em todo caso, sobretudo se considerados o tamanho da intervenção e os custos para o contribuinte.

    O governo, entretanto, continua a negar a realidade, estimando um crescimento irreal. Na proposta de lei orçamentária de 2015, consta que a economia avançará 3%, enquanto a projeção média dos analistas fica em torno de 1%.

    A esta altura, poucos ainda confiam nos cálculos e na conduta da equipe econômica. É difícil superestimar os prejuízos de tal descrença para o país.

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