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    Editorial: Risco líquido e certo

    18/09/2014 02h00

    O debate sobre segurança hídrica realizado anteontem (16) pela Folha evidenciou um consenso: é muito séria a estiagem que se abate não só sobre a região metropolitana de São Paulo mas também sobre outras partes do Estado e do país.

    O que se discute é se os respectivos governos estão preparados para enfrentá-la, como assinalou a série de reportagens "Tudo Sobre | Crise da Água".

    No caso da metrópole paulista, a realidade se encarregou de demonstrar que o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e a empresa estatal de água e saneamento, Sabesp, foram apanhados desprevenidos pela escassez de chuvas, que caiu a níveis nunca vistos em 84 anos.

    É disputável quanto caberia a um administrador precaver-se para evento tão raro; mas é certo que a reação tucana deixa a desejar.

    O secretário paulista de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, negou no debate que tenha faltado investimento governamental. Disse também ser impossível, por custoso, afastar todo e qualquer risco nessa área.

    Já sua justificativa para não haver campanha mais intensa de esclarecimento é tíbia: impedimento pela lei eleitoral. Ora, há um mês a Justiça autorizou a retomada da publicidade acerca desse tema, mas as peças oficiais não passam de apelos anódinos à cidadania.

    Diante do cenário atual, seria de esperar a divulgação de informações sérias, seja para estimular a economia de água, seja para fazer conhecer os planos emergenciais –se é que existem– no caso de as chuvas seguirem abaixo da média.

    Em realidade, o governador Alckmin, candidato à reeleição, se esquiva de medidas com algum risco eleitoral, como a aplicação de multas por desperdício, que chegou a cogitar. De resto, conta com as chuvas como conta com o dia da eleição, como se ambos estivessem consagrados no calendário.

    Essa é a atitude dominante entre administradores e cidadãos brasileiros: encarar a água como um dado da natureza, e as secas, como raras e inevitáveis fatalidades.

    Tal mentalidade precisa mudar, como defenderam outros participantes do debate (Carlos Nobre, climatologista do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da Agência Nacional de Águas, e Maria Cecilia Wey de Brito, secretária-geral da ONG WWF).

    A sucessão incomum de desastres naturais não autoriza mais confiar nos cálculos tradicionais de risco de recorrência de catástrofes. O clima parece estar em transição, e todos os governantes –não só os paulistas– precisam adaptar-se à nova realidade.

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