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    José Matias-Pereira: Os motivos do fracasso do governo Dilma Rousseff

    30/09/2014 02h00

    A sociedade brasileira se encontra cada vez mais apreensiva com o futuro. Essas preocupações decorrem do baixo desempenho da economia, inflação elevada e uma gestão pública emperrada, que se mostra incapaz de atender de forma adequada as demandas da sociedade.

    A percepção da população, de que o cenário socioeconômico e político estão se agravando, contribui para aumentar o desejo de mudanças na forma de governar e de fazer política no país.

    Os problemas econômicos do país têm as suas origens no segundo governo Lula, que a partir de 2009, foi se afastando de forma gradativa do tripé econômico que sustentava o Plano Real: metas de inflação, controle fiscal e câmbio flutuante.

    Essa política foi adotada pelo governo Dilma Rousseff , que implementou em seguida a "nova matriz macroeconômica", se distanciando ainda mais do tripé. Esses ajustes não foram capazes de aumentar a taxa de investimento, nem de elevar a participação da indústria na economia.

    O descontrole das contas públicas por meio de uma política fiscal frouxa estimulou o aumento da demanda, baixando o nível de poupança pública, necessárias para os investimentos. Os elevados déficits em transações correntes no quadriênio (R$270 bilhões), e o aumento da dívida bruta, por despesas parafiscais ou repasses do Tesouro para bancos públicos foram recorrentes no governo Dilma.

    A política monetária exercida com voluntarismo para a redução dos juros fracassou, as taxas de juros Selic subiram para 11% ao ano. Apesar disso, a inflação permanece estacionada no teto da meta de 6,5%, com perspectivas de elevação.

    Os indicadores econômicos evidenciam que o governo Dilma vai encerrar o seu quadriênio (2011-2014), de forma melancólica: uma inflação acumulada de 27% em quatro anos, crescimento do PIB per capita que soma 3,5%, e a pior taxa média anual de crescimento da economia, próxima de 1,7%, a mais baixa nos últimos 20 anos.

    Observa-se que o fracasso de sua gestão foi resultado de decisões econômicas equivocadas, ao insistir em manter o estímulo à atividade por meio do consumo, agravado pela demora em incentivar os investimentos em infraestrutura no país, notadamente por meio de concessões.

    Assim, o governo Dilma será lembrado pelo baixo crescimento do PIB, inflação alta e déficits elevados em conta corrente, cujos efeitos negativos irão repercutir no nível de emprego e da renda no próximo governo.

    O governo, em nome da governança, também aparelhou o Estado, por meio da entrega fisiológica dos ministérios e das empresas públicas para os filiados do partido dos trabalhadores, bem como a partidos políticos aliados, sem levar em consideração a competência e a postura ética desses gestores.

    Essa decisão equivocada contribuiu para o baixo nível de desempenho da administração pública, comprometidos por desperdícios e escândalos de corrupção que permearam a atual gestão.

    É sabido que a retomada do crescimento da economia brasileira - que passa pelo aumento de produtividade - demandam tempo e investimentos, e em particular, um elevado nível de credibilidade do governante.

    Isso vai exigir dos eleitores escolhas criteriosas nas eleições que se aproximam. Infelizmente para a população, os erros graves que foram cometidos pelo atual governo, com a adoção de uma política econômica inconsistente e uma gestão pública travada, irão repercutir negativamente na economia e na vida da população nos próximos anos.

    JOSÉ MATIAS-PEREIRA, 63, economista e advogado, é professor e pesquisador associado do programa de pós-graduação em contabilidade da Universidade de Brasília

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