• Opinião

    Monday, 17-Jun-2024 08:29:01 -03

    Rafael Lourenço: Caminhos e escolhas

    15/10/2014 02h00

    Os brasileiros estão próximos de uma nova oportunidade de escolher um presidente. Mas, será que entendem o valor do voto? Será que compreendem a situação atual do país e saberão escolher um representante comprometido com as transformações estruturais que o Brasil precisa?

    O papel aceita tudo. Esse antigo ensinamento tem ainda mais valor em nosso país, onde a quantidade de leis sobre os mais variados temas impressiona, especialmente pela figura crítica da lei que "não pega".

    O que dizer então dos discursos, das promessas? O compromisso com o Estado brasileiro perene se perde quando a continuidade dos projetos está condicionada ao governo da vez.

    Alcançar a competitividade não é algo que se consegue sem esforço e trabalho contínuo.

    A fórmula já é conhecida e seguida por diversos países: investir em educação e infraestrutura, desburocratizar a máquina pública, estabelecer regras tributárias e trabalhistas justas e claras, combater a corrupção e oferecer um ambiente político-econômico estável para atração de investimentos. O Brasil, porém, ainda não encontrou quem encare esse desafio.

    A razão da piora anual em nossa posição –de 48ª em 2012 para 57ª em 2014– no ranking dos países mais competitivos do Fórum Econômico Mundial não surpreende. A prática arraigada de fechar os olhos para as reformas de base e o desinteresse em alocar os recursos da forma correta explicam a instabilidade brasileira.

    As medidas de ajuste em prol da competitividade e sustentabilidade da economia devem compor uma política robusta do Estado, ou seja, precisam sobreviver aos diferentes governos. Foi assim que, em apenas três décadas, a Coreia do Sul virou potência e viu seu PIB crescer três vezes mais que o do Brasil.

    Enquanto isso, deste lado do mundo, a falta de planejamento de longo prazo resultará, neste ano, em um crescimento inferior a 1%.

    O impacto dessa desaceleração econômica é rapidamente sentido pela indústria, que tem queda prevista de 1,7% no desempenho no ano. Outro indicador claro é a fuga de capital. No ano passado, o país amargou a primeira queda no quadro de investimentos estrangeiros diretos desde 2009.

    São múltiplos os sinais negativos de nossa economia. E, como uma roda viva, começam a aparecer notícias sobre corte de postos de trabalho, a piora da qualidade de vida da população e o aumento da violência.

    Vivemos diariamente os impactos desse cenário. No intuito de gerar oportunidades de negócios e empregos, esbarramos nos entraves da tributação, da ausência de serviços públicos ágeis, dos gargalos logísticos, do preço da energia elétrica, da legislação arcaica. E, dia após dia, vemos o investidor sair pela porta da frente rumo a mercados mais promissores e estáveis.

    Um bom exemplo são as dificuldades enfrentadas pelas novas empresas. Se nacionais, esbarram na burocracia e no alto custo para começar e se manter. Encerrar um negócio pode ser ainda mais difícil.

    Se internacionais, precisam lidar também com a bitributação e com critérios singulares de registro de marcas e patentes, o que impacta a transferência de tecnologia.

    A melhoria do ambiente de negócios depende da criação de um Estado equipado com instituições sólidas, transparentes e confiáveis.

    O intervencionismo excessivo e errático, que gera desconfiança e espanta o bom capital, precisa sair de cena para dar lugar a uma atitude de parceria com o setor privado, cujo objetivo maior é o desenvolvimento.

    As mudanças que o Brasil precisa não podem esperar, devem ser feitas hoje.

    E nos perguntamos novamente: será que os eleitores serão capazes de enxergar além das propostas vazias sobre um país de futuro inalcançável? Conseguirão escolher um representante que não viva somente de ideologias, mas assuma com coragem este país do presente? Sinceramente, esperamos que sim.

    RAFAEL LOURENÇO, 35, é diretor-superintendente da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro - AmCham Rio

    *

    PARTICIPAÇÃO

    Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

    Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024