• Opinião

    Monday, 06-May-2024 19:34:30 -03

    Editorial: Até quando?

    15/10/2014 02h00

    Ainda em julho, período tradicionalmente seco no Estado de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) procurava minimizar a diminuição dos níveis do sistema Cantareira, que em maio passara a utilizar a primeira cota de seu volume morto –água situada abaixo da faixa de captação.

    "Já contávamos com essa queda. Não esperávamos chuva nos meses de inverno. Aprendi na roça que só chove em mês com [a letra] r', então volta em setembro", sustentava o governador.

    Se Alckmin de fato acreditava na sabedoria popular, isso não se sabe. Mas se sabe que, em setembro deste ano, as chuvas que caíram na região do Cantareira representaram cerca de 70% da média histórica. Pior, em meados de outubro, a pluviometria acumulada não passou de 0,3% do que seria normal no mês inteiro.

    A estiagem recorde e o calor atípico talvez possam ser atribuídos às mudanças climáticas. O grave risco de desabastecimento da Grande São Paulo, entretanto, deve-se a outro fenômeno: a incúria das sucessivas gestões tucanas que comandam o Estado desde 1995.

    Nessas duas décadas, o governo paulista deveria ter avançado muito mais na proteção de mananciais e no tratamento de esgoto e dejetos industriais, bem como na redução do desperdício com produção e consumo hídrico. Isso, é claro, sem mencionar a medida mais óbvia de todas: o aumento da capacidade de reservação.

    Desde 2011, pelo menos, a Sabesp (companhia paulista de saneamento básico) reconhece a necessidade de reforçar o abastecimento da região metropolitana da capital. Há mais tempo especialistas no tema chamam a atenção para a insegurança hídrica do Estado.

    Hoje a população percebe que os alertas foram ignorados. O noticiário mostra que a falta de água se generaliza. No ritmo atual, a situação tende a se agravar em novembro. A Justiça ordenou que a segunda cota do volume morto do Cantareira seja usada só em dezembro, mas as reservas atuais podem se exaurir dez dias antes.

    Mesmo que chova, nada garante que as represas retomarão nível seguro antes da próxima seca. De acordo com algumas simulações, a recuperação do sistema só ocorrerá após quatro anos de precipitação dentro da média histórica.

    Ainda assim, o governo de Geraldo Alckmin esquiva-se de informar a sociedade sobre os reais problemas que, segundo todas as evidências, os paulistas precisarão enfrentar, cedo ou tarde. Insiste em dizer que as restrições na distribuição de água são pontuais. Não reage com a transparência e a firmeza que a situação exige.

    Até quando, governador?

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024