• Opinião

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    Márcio Holland: Inflação, carne bovina, frango e ovo

    20/10/2014 02h00

    Em setembro, a inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, variou 0,57%, levando a inflação a acumular alta de 4,61% no ano, de janeiro a setembro. As projeções de mercado indicam que neste ano as metas de inflação anunciadas serão cumpridas mais uma vez e por 11 anos consecutivos.

    Ao explicar o comportamento de alguns itens que mais pesaram na inflação de 0,57%, observamos que o item "carnes" variou 3,17%, mas que outros itens correlacionados estão com preços mais acomodados no ano, como é o caso de "aves e ovos". Contudo, alheios ao meu esforço de explicar tecnicamente o assunto, alguns jornais repercutiram que eu teria sugerido à população a troca de itens de seu consumo diário.

    Entendendo, inicialmente, os motivos para tal interpretação, o Ministério da Fazenda publicou a seguinte nota de esclarecimento no mesmo dia da repercussão do assunto:

    "Em relação a reportagens publicadas hoje na imprensa, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, esclarece: 1) Ao comparar as variações dos preços dos alimentos em setembro, pretendia apenas chamar atenção para um movimento de substituição que pode estar em curso. 2) Com isso, citou o caso especifico de carnes, cujo preço subiu significativamente acima da inflação no mês passado e pode estar sendo substituída por outras fontes de proteínas, como frangos e ovos. 3) Ressaltou, inclusive, que em economia, esse fenômeno é chamado de "efeito-substituição". 4) Não houve intenção de sugerir um comportamento específico por parte das famílias".

    O que era uma análise técnica do comportamento dos preços, e não uma sugestão, infelizmente, adquiriu uma dimensão política inadequada. Sobre isso, prefiro acreditar que a história deste país, uma das democracias mais vibrantes da atualidade, vai superar desesperos de curto prazo, que levaram a uma sucessão de leviandades e em nada contribuem para o debate sobre os desafios do país nos próximos anos.

    Nossa política econômica não tem tolerância à inflação e não se pauta por estratégias de direcionar comportamentos de consumidores, o que não deveria haver dúvida após 12 anos de governos Lula e Dilma. Temos mantido a inflação dentro das metas anunciadas usando sempre os instrumentos tradicionais de enfrentamento da inflação, políticas monetária e fiscal responsáveis.

    Neste ano, mais uma vez, manteremos a inflação nos limites estabelecidos, mesmo com a seca que afetou fortemente preços de alimentos e de energia. Só em 2014, a energia elétrica residencial variou 13,2%. Os alimentos in natura, importantes no consumo diário da população, contudo, estão em deflação.

    Podemos e almejamos ter taxas anuais de inflação ainda mais baixas nos próximos anos, o que será alcançado com o reforço e aprimoramento das boas políticas públicas que temos praticado.

    Além das políticas fiscais e monetárias, daremos continuidade a uma ampla agenda de melhorias microeconômicas e, tão importante, um grande programa de investimento em infraestrutura que está em curso vai gerar aumento de competitividade e favorecerá a expansão da oferta de bens e serviços na economia, o que contribuirá para manter a estabilidade econômica com baixa inflação, sem derrubar o emprego e a renda, como ocorreu nos governos anteriores a 2003.

    O esforço para manter a estabilidade econômica é tarefa permanente de qualquer governo e nós temos tido o maior zelo com essa questão. Colocar dúvida sobre isso é errado e mostra pouco apreço pelo debate mais qualificado em torno da política econômica.

    MÁRCIO HOLLAND, 49, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, é secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda

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