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    Raquel Rolnik: Voto em Dilma no segundo turno

    21/10/2014 02h00

    Pela primeira vez na vida, não votei no PT no primeiro turno das eleições. Sei que não fui a única a me desiludir, depois de acreditar que o PT seria capaz de reverter a velha forma de fazer política no Brasil.

    Mas Aécio Neves tenta nos convencer de que representa a mudança. O que vai mudar com a coalizão liderada pelo PSDB? Na velha forma de fazer política, absolutamente nada. São os mesmos pactos pela governabilidade, a distribuição de benefícios mediada por grupos políticos, o favorecimento de indivíduos (e grupos) dentro e fora do governo.

    Esses não são temas que se resolvem com a substituição de um grupo por outro. Então não há diferença alguma entre Aécio e Dilma? Há, sim. Ela se situa em dois temas da maior importância: a política econômica e a forma de relacionamento com a luta social.

    Na economia, Dilma defende que o país vai crescer mais se a renda e o poder de consumo da população aumentar. Para isso, pratica aumento dos salários, distribuição de renda, controle dos juros e uma grande presença do Estado, investindo em infraestrutura e gastos sociais.

    Aécio Neves, com seu projeto neoliberal, acredita que o mercado dá conta da totalidade da vida social. Cortando gastos públicos, reduzindo subsídios e aumentando os juros, o país vai atrair a confiança do capital financeiro e, assim, alavancar o crescimento econômico.

    Essas diferenças têm repercussões na vida das pessoas que vão além do salário e da renda. Para a política urbana, por exemplo, esse é um debate fundamental. Lembremos que, em junho de 2013, a primeira reivindicação que levou milhares de pessoas às ruas foi a da redução das tarifas do transporte público.

    Que a eficiência, a qualidade e o preço do transporte público são desafios de nossas cidades ninguém tem dúvida. Mas não há mágica para universalizar o transporte público de qualidade: isso só se faz com investimentos e grandes subsídios.

    Isso vale para outros temas centrais da política urbana, como saneamento e habitação. Se o pressuposto –representado pela visão neoliberal de Aécio– é o de abrir mais um campo de exploração mercantil, então saneamento e moradia não vão atender quem mais precisa, pois quem mais precisa não tem dinheiro para pagar sequer o custo do serviço, quanto mais com lucro! Dilma tanto sabe disso que aumentou exponencialmente os subsídios diretos nessas áreas.

    Nos governos do PT, ilhas, brechas e espaços de interlocução foram abertos para dialogar com os setores mais excluídos da população: catadores, quilombolas, sem-terra, sem-teto e muitos outros. Se isso não foi capaz de reverter o centro das políticas, teve o efeito de apoiar experiências e afirmar a legitimidade da luta social e por direitos de cidadania plena no Brasil, ainda inconclusa. Já para o PSDB, governo deve ser território de tecnocratas e movimentos sociais são caso de polícia.

    A radicalização da democracia exige mudanças. Tenho dúvidas se seremos capazes de fazê-las sob a liderança de Dilma, mas tenho certeza de que eleger Aécio é consolidar no poder a influência de poderosos interesses que até agora têm impedido essas mudanças. Por isso, meu voto no segundo turno é, sem dúvida, de Dilma Rousseff.

    RAQUEL ROLNIK, 56, urbanista, é professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e colunista da Folha

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