• Opinião

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    Editorial: Retrocesso evidente

    21/10/2014 02h00

    Estão lá, em meio às platitudes dos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) sobre seus planos de governo, as devidas loas à transparência. Uma vez no poder, contudo, ou mesmo na disputa para lá chegar, todo político se vê tentado a esconder os dados que lhe são desfavoráveis.

    A presidente Dilma, no esquálido documento submetido à Justiça Eleitoral, promete "utilizar cada vez mais a internet para que o cidadão acompanhe, com facilidade e transparência, a destinação dos recursos públicos".

    O senador Aécio destaca a transparência como um dos princípios de seu governo e anuncia "efetivo acompanhamento da sociedade na execução das políticas públicas".

    O retrospecto recente de ambos, porém, desautoriza otimismo.

    O candidato tucano, por exemplo, demorou 11 dias para dar esclarecimentos sobre o aeroporto na cidade de Cláudio (MG), cuja construção, segundo reportagem desta Folha, teria beneficiado seus familiares. Quando se manifestou, Aécio foi evasivo: "Depois de concluída essa obra [...], pousei lá umas poucas vezes, quando já não era mais governador do Estado".

    A candidata petista, no exercício do poder, tem telhado de vidro muito mais amplo. Só nas duas últimas semanas lançou ao menos duas cortinas de fumaça para ocultar dados decerto incômodos.

    O primeiro caso veio com a decisão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de suspender a publicação de estudo sobre a evolução no número de miseráveis. O episódio levou ao afastamento de Herton Araújo da diretoria de Estudos e Políticas Sociais.

    Também andam nebulosos os dados de desmatamento na Amazônia. As cifras provisórias publicadas mês a mês pelo sistema Deter simplesmente não foram divulgadas em agosto e setembro, sob o pretexto de que sairão com metodologia mais precisa –mas somente em novembro, quando o segundo turno será história.

    Parece certo que a devastação segue em alta, como indicam os dados da ONG Imazon revelados pela Folha: aumento de 191% em agosto-setembro, em relação ao mesmo bimestre de 2013, ano que registrou o primeiro salto (29%) na taxa de desmatamento da década.

    Ainda que os 5.891 km² derrubados no ano passado constituam a segunda menor taxa histórica, a repetição de um aumento deixaria patente o retrocesso.

    Má notícia para Dilma, e muito pior para o Brasil: além da possível estagnação em dois processos benignos –quedas nas taxas de miséria e devastação–, o país se vê ameaçado pela ocultação de dados imprescindíveis para julgar as ações do governo federal.

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