• Opinião

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    Edson Luiz Sampel: O papa e uma nova (primeira) encíclica

    01/11/2014 02h00

    O recente caso de dom Rogelio Livieres, bispo paraguaio deposto pelo papa Francisco, revela um pouco de uma renovada liça entre progressistas e conservadores.

    Não quero aqui contestar a decisão pontifical, estribada em testemunhos e documentos sérios. Contudo, sabe-se que dom Rogelio repugnava a chamada Teologia da Libertação.

    Na assembleia extraordinária do sínodo sobre a família, realizada em outubro em Roma, houve divergências graves entre os que abroquelam os direitos da família tradicional, liderados pelo cardeal Gerhard Müller, e alguns eclesiásticos defensores de uma maior complacência pastoral.

    Desde a ascensão do cardeal Jorge Bergoglio ao trono de são Pedro, muitos dos entusiastas da moribunda Teologia da Libertação têm reaparecido no cenário eclesial, principalmente com livros e artigos.

    Parece que certas pessoas nutrem a esperança de que Francisco revigorará a tal teologia de esquerda. Ledo engano!

    Quem lê superficialmente a exortação apostólica Evangelii Gaudium, de Francisco, fica com a impressão de que o programa de governo de sua santidade se mostraria benevolente com a Teologia da Libertação.

    Todavia, quem lê o referido documento com atenção percebe que o papa frisa a relevância da Doutrina Social da Igreja. Esta, sim, fruto do amor preferencial de Jesus Cristo pelos pobres.

    Não há dúvida de que Francisco seja um maravilhoso regalo de Deus à humanidade, não só para os católicos, haja vista o empenho do vigário de Cristo em favor da paz mundial, bem como sua preocupação constante com os idosos e jovens.

    Sem embargo, creio que já está na hora de o papa escrever uma encíclica, para dizer a que veio e, por conseguinte, aplacar os ânimos exaltados de progressistas e ultraconservadores.

    Oficialmente, até o momento, Francisco redigiu dois importantes documentos: a encíclica Lumen Fidei e a exortação comentada linhas acima, Evangelii Gaudium.

    Nada obstante, o primeiro –todos sabemos– é um texto que já estava pronto, da lavra de Bento 16; o segundo, embora de autoria do papa reinante, consiste num sumário ou resumo do pensamento dos prelados reunidos no sínodo da evangelização.

    De fato, na Evangelii Gaudium, pode-se vislumbrar algo da alma de Francisco, porém não se trata propriamente de um programa de governo.

    É tradição na Igreja que o sumo pontífice, ao dar início ao pastoreio de todos os católicos do planeta, apresente uma espécie de plataforma de governo, expondo suas ideias, descortinando suas preferências teológicas e declinando suas prioridades, com clareza. Isto se faz geralmente por intermédio de uma carta encíclica.

    Aguardemos, portanto, com reverência e alegria, uma nova –a primeira– encíclica do papa Francisco.

    EDSON LUIZ SAMPEL, 49, doutor em direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense,de Roma, é professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo

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