• Opinião

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    Maria Alice Setubal: Educação, desafio suprapartidário

    02/11/2014 02h00

    Vivenciamos uma campanha eleitoral que a maioria dos analistas políticos qualificou como uma das mais agressivas dos últimos tempos, comparada apenas à eleição presidencial de 1989, em que Collor e Lula foram ao segundo turno.

    Sem querer aprofundar a análise desse processo e discordando dos que acreditam que a campanha eleitoral é um momento isolado, que não se reflete nos pactos para se governar, vejo um país dividido entre duas forças políticas.

    Certamente esse processo trará muitas consequências para o próximo governo, que deverá enfrentar uma oposição ferrenha tanto no Congresso Nacional e de governadores, como entre as militâncias das redes sociais.

    No entanto, algumas prioridades, dentre elas a educação, foram temas comuns entre os candidatos e merecem uma análise mais cuidadosa. A sociedade brasileira fez um enorme esforço para universalizar o ensino fundamental, porém não alcançamos a igualdade de oportunidades para uma educação de qualidade. Continuamos com o desafio de ampliar o acesso à educação infantil e ao ensino médio.

    O atual governo não foi capaz de mostrar um compromisso sério nessa direção, o que se reflete nas avaliações internacionais, com o Brasil aparecendo nas últimas colocações, assim como nos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que, pela primeira vez, indicam que não atingimos as metas estipuladas pelo próprio Ministério da Educação.

    Na campanha de Marina Silva, afirmávamos que o salto necessário em busca de uma educação de qualidade para todos exige uma mobilização, não apenas de um governo, mas de toda a sociedade.

    Trata-se de enfrentarmos as desigualdades educacionais entre as diferentes regiões do país, entre cidade e campo e entre as escolas localizadas nos centros e nas periferias das grandes cidades.

    Para isso, não podemos mais tolerar o atraso escolar, o analfabetismo absoluto e funcional e, principalmente, a incompreensível existência de mais de um milhão de jovens que não estudam nem trabalham.

    Essa mobilização tem que destacar a valorização dos profissionais da educação com salários dignos e repensar a formação inicial e continuada do professor de modo que haja uma conexão mais direta com a realidade da sala de aula.

    Finalmente, temos que construir as bases dos novos conhecimentos impostos pelo século 21. Transformar a escola em um organismo vivo dentro de suas comunidades, conectada às questões contemporâneas que motivem crianças, adolescentes e jovens dando um sentido ao seu aprendizado.

    É hora de colocarmos a causa de um Brasil mais justo para as futuras gerações acima das diferenças partidárias. É hora de eliminarmos os preconceitos de diferentes ordens para valorizarmos nossa diversidade cultural, é hora de unirmos o Brasil, como diz Marina Silva.

    MARIA ALICE SETUBAL, doutora em psicologia da educação pela PUC-SP, é presidente dos conselhos do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e da Fundação Tide Setubal

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