• Opinião

    Monday, 17-Jun-2024 03:58:59 -03

    Dirk Brengelmann: Os 25 anos da queda do Muro de Berlim

    09/11/2014 02h00

    Hoje faz 25 anos que o Muro de Berlim caiu. As imagens percorreram o mundo quando foram abertas as fronteiras em Berlim, e as pessoas do oeste e do leste se abraçaram.

    Eu mesmo me lembro bem do 9 de novembro de 1989: inicialmente a gente nem podia acreditar no que estava acontecendo perante nossos olhos. Ao mesmo tempo, eram momentos de grande alegria e de satisfação ao constatar que finalmente a divisão alemã, artificial desde o início, havia sido superada, uma divisão que por décadas havia separado cidadãos, amigos e famílias de ambas as partes da Alemanha.

    O ex-chanceler Willy Brandt (1913-1992) disse naquela época: "Agora se une o que pertence a um todo" ("Jetzt wächst zusammen, was zusammen gehört").

    A queda do Muro de Berlim foi resultado de uma revolução popular pacífica com o lema "nós somos o povo", posteriormente "nós somos um povo". A dimensão internacional da reunificação foi ultimada um ano depois, no Tratado Dois Mais Quatro, firmado entre os dois Estados alemães, de um lado, e os EUA, o Reino Unido, a França e a então União Soviética, de outro.

    Restou à Alemanha agradecer a todos os parceiros. Também sem a ajuda e a solidariedade dos nossos países vizinhos, essa mudança radical teria sido inimaginável.

    Os primeiros anos da Unidade Alemã foram um árduo caminho a galgar. Até hoje a "construção do Leste" continua sendo um desafio para toda a Alemanha. Todavia, muito se alcançou nos últimos 25 anos: em muitas áreas –da Previdência Social à infraestrutura de transportes– pode-se constatar poucas diferenças entre a Alemanha Ocidental e a Oriental.

    Para as gerações mais jovens, que não têm uma lembrança da divisão alemã, não se questiona mais se o leste e o oeste cresceram juntos. Para eles, a Alemanha reunificada é natural.

    Também do ponto de vista da política externa, a face da Alemanha mudou significativamente nos últimos 25 anos. Como parceiro confiável na comunidade internacional, estamos hoje cada vez mais prontos a assumir responsabilidades em crises internacionais, seja na busca por soluções da crise na Ucrânia, seja no combate ao terrorismo do Estado Islâmico.

    No entanto, a queda do Muro de Berlim foi muito mais do que um acontecimento puramente alemão: ele aplainou o caminho para o final do conflito leste-oeste, que marcou o mundo após a Segunda Guerra Mundial, criando o fundamento para a integração da Europa Ocidental e Oriental no âmbito da União Europeia, que hoje abrange 28 Estados-membros.

    A União Europeia é um projeto de paz ímpar. O ano de 2014 sublinha isso com toda a clareza: cem anos do início da Primeira Guerra Mundial (1914), 75 anos do desencadeamento da Segunda Guerra Mundial (1939), 25 anos da Queda do Muro (1989), dez anos da expansão da União Europeia para o leste (2004).

    A União Europeia é a resposta que Europa encontrou para as rupturas de nossa civilização na primeira metade do século 20. Temos que nos ater a essa resposta.

    O 9 de novembro, o dia em que o Muro caiu, é motivo de alegria, mas ao mesmo tempo é um alerta e um compromisso: paz, liberdade, democracia não são eternas garantias se não nos empenharmos diariamente nessa tarefa.

    DIRK BRENGELMANN, 58, é embaixador da República Federal da Alemanha

    *

    PARTICIPAÇÃO

    Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.

    Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024