• Opinião

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    Paulo André: O futuro do futebol nas mãos do Congresso

    09/12/2014 02h00

    As afirmações "a grande lição da Copa é reformar o futebol brasileiro" e "é urgente modernizar a organização e as relações do futebol", feitas pela presidenta Dilma Rousseff, deram esperança a quer mudanças no futebol brasileiro. Essa posição foi confirmada pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, quando nos reunimos em Brasília no mês passado.

    O Bom Senso FC, associação dedicada a promover reformulações no esporte, escancarou que a versão dos clubes do projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte não vai modernizar ou moralizar gestões e relações do futebol, como deseja a presidenta.

    Queremos saber por que o Ministério do Esporte contrariaria as ordens da presidenta e da Casa Civil ao apoiar a versão do projeto da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e dos clubes, afirmando se tratar de um avanço para o futebol.

    O argumento é frágil. Afirma que é melhor aprovar 50% de "eventuais" soluções agora e deixar os outros 50% de soluções para depois, justo aquelas que efetivamente sustentarão a funcionalidade da primeira metade do projeto.

    Na última versão da proposta, assinada pelo deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), ignorou-se a maioria das emendas sugeridas pelo Bom Senso Futebol Clube.

    Sócio de Marco Polo Del Nero, presidente eleito da CBF, Vicente Cândido retira do texto a obrigação da entidade se inserir no artigo 18-A da Lei Pelé, que fixa parâmetros de gestão democrática e transparente. Permite a antecipação de receitas para "passivos onerosos", seja lá o que isso quer dizer, e limita a definição de gestão temerária apenas para antecipação de outras receitas (que não "as onerosas").

    O texto proposto pelo deputado retira a obrigação do pagamento do direito de imagem aos atletas, sob pena de punição desportiva aos clubes, e define que apenas as agremiações que participarem do parcelamento fiscal serão passíveis de punições de um comitê de acompanhamento, que na nova versão da proposta só valerá a partir de 2019.

    Outra aberração que tentam emplacar na surdina é a diminuição da cláusula compensatória, que determina o quanto os clubes deverão pagar aos atletas em caso de rescisão. É mais um golpe da bancada da bola que não se pode permitir.

    Nunca houve um momento em que os clubes ficaram tão desesperados pedindo socorro ao governo: os dirigentes, muitos ainda em mandato vigente, poderão ser julgados por crime de apropriação indébita, e a CBF precisa mostrar serviço depois da exposição pública de sua incapacidade administrativa, que nos conduziu à maior vergonha da história do futebol mundial.

    Será que haverá momento mais propício do que o atual para moralizar a gestão do futebol brasileiro?

    É inaceitável que a CBF só pense em tentar salvar a pele dos dirigentes de clubes para garantir os votos necessários e a manutenção de seu poder. Por isso, não nos surpreendeu o anúncio da contratação do ex-deputado federal Walter Feldman como secretário-geral da Federação Paulista de Futebol, que acompanhará Marco Polo Del Nero na CBF.

    O cenário é favorável para a aprovação de um projeto rigoroso, como propõe o Bom Senso FC. Vamos defender nossa posição nesta terça (9) em Brasília. É hora de acabar com a ditadura na CBF. Governo e importantes congressistas sabem disso.

    Perder essa oportunidade significa deixar que as más gestões do futebol se perpetuem por mais uma década, o que seria um retrocesso, além de significar o não cumprimento da promessa da presidenta Dilma e do ministro Mercadante.

    PAULO ANDRÉ BENINI, 31, jogador de futebol, é fundador e um dos líderes do Bom Senso Futebol Clube, associação dedicada a promover reformulações no esporte. É atleta do Shanghai Shenhua, da China

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