• Opinião

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    Minhocão deve ser desativado e demolido? Sim

    13/12/2014 02h00

    THIAGO CARRAPATOSO: ENGODO URBANÍSTICO

    Desde quando o Plano Diretor Estratégico de São Paulo foi aprovado no final de julho de 2014, seu artigo 375 tem causado polêmica em alguns setores da sociedade e polarizado discussões sobre a cidade que não são tão "branco no preto".

    O tal artigo define que o elevado Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, deve ser paralisado por meio de uma lei específica que já defina seu uso futuro, seja parque em cima de suas estruturas ou seja a demolição (ou desmonte) total ou parcial do viaduto.

    A questão, porém, não é apenas sobre o que fazer com as estruturas (parque ou desmonte), mas sobre a cidade que queremos construir daqui para frente.

    O Minhocão é um engodo urbanístico. Ele é uma cicatriz que a cidade carrega há mais de 40 anos, quando o então prefeito Paulo Maluf decidiu desengavetar um projeto –que já era criticado pela administração anterior à sua– para deixar um marco de sua gestão na cidade de São Paulo.

    Um marco que causa até hoje problemas urbanísticos nos bairros do entorno e na saúde dos moradores dos prédios ao redor. Urbanistas o consideram uma armadilha para o tráfego, uma vez que quando se sobe em suas vias não se sabe quando se conseguirá sair, e que foi responsável pela degradação dos bairros e pela visível divisão social entre alto e baixo centro.

    Realizar um parque em cima de suas estruturas é perpetuar um erro com o qual a cidade já está cansada de arcar. Pensar em uma estrutura de concreto como um parque é uma falácia.

    Não deveríamos pensar em algo acima da gente. O que é preciso é pensar o que ocorre em nosso nível, onde a gente enxerga a vida.

    Hoje, porém, a realidade é outra. Já está em tramitação na Câmara Municipal o projeto de lei nº 10/2014 que aprova o parque, sem nem ao menos terem sido feitas consultas públicas com a população local. O projeto, assinado por sete partidos políticos, foi criado muito antes de o Plano Diretor ter sido aprovado.

    É uma forma de fazer política antiquada, que não envolve a participação da população local e da sociedade civil.

    O que fazer com o Minhocão engloba decisões muito além do parque vs. desmonte. O debate precisa ser qualificado sobre a cidade que queremos, com um plano macro que contemple as singularidades –que são muitas!– da região.

    O que vai acontecer com os moradores de classe média baixa que não são necessariamente os proprietários dos imóveis que habitam? Depois de anos convivendo com esse engodo, eles serão obrigados a sair por causa da especulação do mercado imobiliário?

    O que vai acontecer com os moradores da Favela do Moinho, que, teoricamente, será soterrada pelo único projeto de alteração de tráfego na região, a Operação Lapa-Brás? Por que não pensar em um parque linear acompanhando as avenidas São João e Amaral Gurgel?

    A reestruturação dos parques e praças já existentes na área só facilita o convívio entre os moradores e, de quebra, incentiva o comércio das fachadas ativas dos prédios na região.

    Por isso, organizamos um Fórum (com atuação especial de Elisa Moreau) junto a vários gabinetes da Câmara Municipal para envolver a sociedade civil nessa decisão e, juntos, pensarmos como não sair de um engodo para se entrar em outro.

    Durante o primeiro encontro agora em dezembro, soubemos que os defensores do parque tiveram uma reunião com o prefeito Fernando Haddad. Tentamos marcar uma outra audiência para mostrar a necessidade de participação popular, mas até agora ficamos sem resposta.

    Será que ainda queremos perpetuar uma política de cima para baixo que não contempla os cidadãos?

    THIAGO CARRAPATOSO, 30, jornalista, é colaborador do movimento SP Sem Minhocão!

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