• Opinião

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    Editorial: Emergência na Rússia

    18/12/2014 02h00

    A crise financeira que atinge a Rússia assusta não só pelos efeitos que possa ter sobre outros países mas também, e talvez principalmente, por ser um sinal de que as peças no xadrez econômico global estão trocando de posições.

    A situação de Moscou, por ora, é a mais dramática. O colapso da moeda russa (rublo) acelerou-se nas últimas semanas, tornando quase certa uma recessão em 2015. Na terça (16), a saída de capitais externos e locais ganhou feições de pânico, com a maior desvalorização desde as turbulências de 1998.

    Será difícil para o presidente Vladimir Putin preservar a imagem que cultivou, de âncora da estabilidade. Às sanções econômicas impostas pelo Ocidente como resposta às investidas do Kremlin em território ucraniano veio se somar a queda abrupta do preço do petróleo, mais de 40% desde julho.

    Mas, por razões que vão além da vulnerabilidade específica da economia russa e da perda de valor do petróleo, o foco principal de preocupação são os países emergentes.

    Depois das recorrentes crises nos anos 1990, esse grupo de nações aproveitou as condições favoráveis da década passada para crescer em ritmo acelerado.

    Se, por um lado, o impulso do desenvolvimento chinês elevou sobremaneira os preços de matérias-primas, a crise nos EUA provocava rebaixamento dos juros mundiais.

    No entanto, peças outrora mais bem posicionadas no tabuleiro agora se encontram ameaçadas. Consolida-se um cenário de sólida retomada econômica nos EUA e se avizinha o momento em que os juros começarão a subir.

    Tudo indica que será um movimento lento, por causa da inflação baixa e da letargia em outras partes do mundo. Mesmo assim, o dinheiro começa a refluir para o dólar e para ativos americanos.

    Enquanto isso, a expansão da China torna-se mais lenta, com uso menos intenso de matérias-primas. Os preços de metais industriais e de energia têm caído desde 2011, também por influência da maior produção de petróleo e gás nos EUA.

    O resultado é uma rápida redução do diferencial de crescimento entre os emergentes e os desenvolvidos, que atingiu seis pontos percentuais em 2010, mas desde então caiu à metade. Retorna-se ao padrão histórico –nos 30 anos que antecederam o boom chinês, a disparidade em favor dos emergentes era de no máximo dois pontos.

    A situação é muito distinta daquela dos anos 1990, mas permanece, ainda assim, o ponto fundamental: nos próximos anos, será maior a diferença de desempenho entre os países que aproveitaram o período de vacas gordas para reformar suas economias e aumentar a produtividade e os que, como as cigarras, não se prepararam para a mudança de estações.

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