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    Francisco Christovam: A desmistificação das empresas de ônibus

    19/12/2014 02h00

    A empresa Ernst & Young entregou, após oito meses de trabalho, os resultados da auditoria que realizou nas contas de empresas e cooperativas responsáveis pelo transporte por ônibus na cidade de São Paulo a pedido da prefeitura.

    Os serviços contratados deveriam examinar contas, lançamentos, balancetes, balanços, resultados contábeis ao longo da vigência dos atuais contratos, assinados em 2003, com ênfase nas contas do exercício de 2012.

    As empresas operadoras facilitaram o acesso aos dados e informações solicitadas, mas foram totalmente alijadas dos trabalhos, tendo tomado conhecimento dos resultados por meio de um blog hospedado no site da SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal).

    É preciso destacar que as empresas concessionárias e as cooperativas operam perto de 15 mil veículos, transportam cerca de 10 milhões de passageiros, percorrem quase 3 milhões de quilômetros e realizam mais de 200 mil viagens todos os dias.

    A Ernst & Young afirmou que as empresas não realizam 10% das viagens programadas e, com isso, têm um possível ganho financeiro. Se as empresas colocam em operação a totalidade da frota programada, conforme citado pela própria auditoria, as partidas não realizadas dependem das condições de circulação que não são de responsabilidade das empresas operadoras, exceto pela quebra dos veículos.

    O resultado econômico-financeiro dos contratos de concessão foi avaliado com base na elaboração de fluxos de caixa estimados. A empresa de auditoria, por sua vez, afirma que valores adotados nos estudos não refletem a realidade financeira das empresas operadoras.

    Essa condição de análise, por si só, já indica que as premissas adotadas podem não refletir a realidade dos fatos e nem as condicionantes do tipo de serviço em questão.

    Mesmo assim, houve a constatação que a TIR (taxa interna de retorno) do projeto, verificada após detalhada análise dos dados contábeis das empresas, não apresenta significativa discrepância com a taxa fixada pelo poder público, por ocasião da contratação dos serviços, em 2003.

    Finalmente, pode-se afirmar que os resultados dos trabalhos da auditoria serviram, no mínimo, para acabar de vez com alguns mitos e preconceitos, a saber:

    1) Não há nenhuma caixa-preta no sistema de transporte por ônibus na cidade de São Paulo;

    2) Todas as empresas têm seus dados contábeis e fiscais permanentemente auditados por empresas de auditoria independentes e disponibilizados ao poder concedente;

    3) Os resultados econômicos auferidos pelas empresas, especialmente o lucro real, estão perfeitamente compatíveis com as regras do contrato vigente e com os riscos inerentes ao tipo de serviço prestado;

    4) A qualidade dos serviços prestados não é exclusivamente responsabilidade das empresas operadoras, ou seja, sem faixa de domínio próprio e prioridade no sistema viário não há como exigir cumprimento de viagens programadas;

    5) Só o trabalho conjunto entre poder concedente e empresas operadoras poderá redundar em melhor qualidade dos serviços e otimização dos custos operacionais.

    A auditoria realizada a pedido da prefeitura também demonstra que produzir serviços de transporte por ônibus na cidade de São Paulo e fazer a gestão desses serviços não é trabalho para principiantes e, muito menos, para aventureiros.

    FRANCISCO CHRISTOVAM, 62, é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo. Presidiu a SPTrans (empresa que gere o transporte municipal) de 1993 a 1999

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