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    Fábio Zanini: Colheita maldita

    25/12/2014 02h00

    SÃO PAULO - O Brasil está exportando trigo podre para africanos e asiáticos, como mostrou Felipe Bächtold na Folha desta terça (23).

    Cerca de 1 milhão de toneladas do produto, cultivado no Rio Grande do Sul e proibido de ser consumido aqui, foram afetadas por um fungo que produz uma substância com o sugestivo nome de "vomitoxina", que provoca náuseas. Nem para animais serve.

    Mas o que deveria ir para o lixo está sendo desovado a preços reduzidos em países como Nigéria, Vietnã, Filipinas e Indonésia. O líder dos produtores rurais, feliz por ter minimizado o prejuízo, diz que não tem nada com isso, pois o controle sanitário compete a quem compra. O Ministério da Agricultura alega que não faz a análise do trigo mandado para fora.

    Pode até ser, mas é um erro lavar as mãos. Do Brasil se espera comportamento diferente ao da cleptocracia nigeriana ou da ditadura comunista vietnamita, onde a preocupação com a saúde dos cidadãos é, digamos, mais maleável.

    Nos últimos dez anos, o Brasil colocou como prioridade melhorar sua presença global. Enviou militares para ajudar em situações de conflito e financia obras de infraestrutura em diversos continentes. O "poder suave" brasileiro hoje é uma realidade, na assistência à agricultura ou na fabricação de remédios contra a Aids.

    Houve, é fato, também efeitos nocivos desse novo protagonismo, na exportação de armas para regimes repressores ou na fobia em criticar abusos de governos amigos. Mas o saldo é claramente positivo.

    A ideia de exportar trigo envenenado é uma decisão, além de moralmente abjeta, burra. Joga contra esse esforço de construção de uma nova imagem para o país, com potenciais prejuízos comerciais.

    O produto bichado funcionará como antipropaganda da marca Brasil quando crianças começarem a ter crises de vômito. O governo deveria parar de fingir que não é com ele e impedir esse escândalo.

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